PRESSÃO DE GRUPO, CONFORMIDADE E OBEDIÊNCIA
Em X-Men: Primeira Classe, Erik Lensherr é um
jovem judeu que, aos 15 anos, viu sua mãe morrer em um campo de concentração
nazista na Alemanha. Quando adulto, ele se dispõe a fazer tudo o que lhe é
possível para se vingar e matar Sebastian Shaw, o homem que atirou em sua mãe.
Para tal, ele usa seus poderes de magnetismo e sai pelo mundo de modo a
encontrar pistas que o levem ao seu procurado. Chegando na Argentina, Erik
encontra dois homens que eram companheiros de Shaw e que – nas palavras do
próprio Erik – apagaram os nomes dos seus pais. É quando ele mostra em seu
punho, um número que indica que ele era um dos prisioneiros do campo de
concentração (a esse número grafado em sua pele, podemos chamar de estigma – ou
estereótipo).
Em meio a uma cena de
ação, Erik mata os dois homens, entretanto antes de ser morto, um dos homens
disse que apenas seguia ordens, o que nos leva aos estudos de conformidade
social e obediência propostos por Stanley Milgram e Solomon Asch.
Para estudar a
conformidade social, Solomon Asch realizou testes visuais em participantes que
precisavam escolher em um conjunto de três linhas verticais, qual delas era
idêntica em relação a uma linha-padrão, sendo que a resposta era clara, entretanto,
diante da sugestionabilidade, os participantes erravam as respostas que eram
óbvias, simplesmente por seguirem participantes infiltrados que sabiam dos
propósitos da experiência e davam respostas erradas. Diante de investigações
posteriores, Solomon Asch propôs que a conformidade aumenta quando alguém é
posto numa situação em que se sente incompetente ou inseguro, o grupo é
unânime, alguém admira o papel social e a atratividade do grupo ou quando a
cultura de alguém incentiva fortemente o respeito pelos padrões sociais.
“Você já percebeu como um único exemplo — bom ou ruim — pode prontamente ser seguido pelos demais? Como um carro estacionado ilegalmente autoriza outras pessoas a fazer o mesmo?Como uma piada racista suscita outras?" - Marian Wright Edelman, The Measure of Our Success, 1992
Vemos o conformismo e
a obediência em uma cena próxima ao final do filme, Erik e outros mutantes
encontram-se em uma ilha, enquanto que no oceano encontram-se navios de guerra
norte-americanos e russos que, em disparate, atiram em direção à ilha de modo a
matar todos os mutantes que ali se encontram. Aqueles navios não estavam ali
para matar os mutantes, mas, sim, para matarem uns aos outros (Estados Unidos x
Rússia), porém, subitamente, mudam de ideia e procuram matar aqueles que eram
diferentes de si (falaremos sobre o preconceito mais adiante). No momento em
que os mísseis se aproximam da ilha com os mutantes, Erik utiliza seus poderes
de magnetismo e para todos os mísseis no ar, virando-os para os níveis em um
contra-ataque. Nessa hora, Charles Xavier diz a Erik que há milhares de pessoas
boas, inocentes, nos navios, que elas só seguem as ordens.
A esse respeito, para
Stanley Milgram, autor de um famoso experimento sobre obediência, desde cedo somos socializados para sermos
obedientes e sentimo-nos obrigados a acatar os comandos das figuras de
autoridade mesmo quando entram em conflito com os nossos próprios valores morais,
agindo conforme as ordens que recebemos.
“A lição mais importante de nosso estudo é que pessoas comuns, simplesmente fazendo seus trabalhos, e sem nenhuma hostilidade em particular, podem se tornar agentes em um processo terrivelmente destrutivo. [...] Durante a guerra, um soldado não questiona se é bom ou ruim bombardear uma aldeia. [...] A obediência à autoridade não é uma particularidade da cultura germânica, mas um traço aparentemente universal do comportamento humano.” – Stanley Milgram
Em qualquer sociedade,
grandes males às vezes nascem da conivência com males menores. Nos experimentos
de Stanley Milgram, os sujeitos ficaram divididos em responder às súplicas da
vítima ou às ordens do pesquisador o que demonstra que fortes influências
sociais podem fazer as pessoas se renderem à crueldade (ou concordarem com
falsidades, como visto nos estudos de Solomon Asch).
PRECONCEITO E ESQUEMAS SOCIAIS
Preconceito é uma
atividade geralmente negativa, uma mistura de crenças muitas vezes
generalizadas - os estereótipos - um prejulgamento dirigido a um grupo quase
sempre diferente e aos que dele fazem parte, grupo esse em nosso contexto, os
mutantes do filme X-Men: Primeira Classe
– pessoas com habilidades e poderes sobre-humanos, o que os torna diferentes de
um ser humano que não tenha tais habilidades, que acabam por sentir medo e
hostilidade dos mutantes -, levando a um comportamento negativo, a
discriminação.
O preconceito pode ser
fruto de esquemas sociais - estruturas mentais que giram em torno de um tema
específico - e ter como causas:
Competição (Raiz Social): Em X-Men:
Primeira Classe, os humanos sem superpoderes e os mutantes, de certa forma,
competem pela dominação de sua raça no mundo. Sebastian Shaw, um mutante com poder
de absorção de energia, utiliza de coerção para que líderes dos Estados Unidos
e da Rússia causem uma guerra nuclear de modo que nasçam mais mutantes no
mundo, afinal a radiação proporcionará mais mutações no genoma humano. Em
contrapartida, os humanos sem superpoderes veem os mutantes como uma ameaça ao
Homo Sapiens, o que gera preconceito entre ambos os grupos.
Detalhe: A fim de
atrair mais mutantes para sua equipe, Sebastian Shaw, utiliza uma tática de
influência social conhecida como “pé na porta”. Ao invadir o centro onde os
outros mutantes estão guardados, Shaw inicia uma conversa amistosa com eles,
dizendo que não está ali para feri-los, para depois fazer uma proposta de tal
forma que uma das mutantes passa a fazer parte de sua equipe.
Bode expiatório (Raiz Emocional): É a atribuição em deslocar a raiva para grupos
minoritários e facilmente detectáveis. Como vimos anteriormente, em uma das
cenas finais do filme, os navios de guerra estavam ali para brigarem entre si,
mas, abruptamente, decidem atirar contra os mutantes, o que deixa explícito que
eles estavam tentando responsabilizá-los por algo que muitos deles não tinham
vínculo algum à guerra particular entre norte-americanos e russos.
Categorização (Raiz Cognitiva): Acreditar que toda pessoa que se encaixe em
determinado rótulo irá agir igual a todos os outros indivíduos dentro daquela
categoria, atribuindo-lhes características do grupo pertencente. Em X-Men: Primeira Classe, temos Charles
Xavier e Erik Lensherr que tornam-se amigos, apesar de terem propósitos
distintos: o primeiro acredita que mutantes e não-mutantes podem viver
pacificamente, enquanto o segundo acredita que os humanos nunca aceitarão o
diferente e que os mutantes por serem, segundo ele, uma raça superior, devem se
impor no mundo. Temos um exemplo de categorização em uma conversa entre eles:
Erik: “ - Vão ter medo
de nós e esse medo vai virar ódio. [...] Você acha que todos eles são iguais à
Moira (referindo-se a uma mulher
não-mutante que quer ajudar os mutantes)”
Charles: “ - E você
acredita que todos são iguais ao Shaw (referindo-se
a um mutante que é o vilão do filme)”
Para reduzir o
preconceito, temos hipóteses de contato, mas não apenas um contato de mero
convívio e, sim, uma cooperação em tarefas similares, uma interdependência
mútua. Essa cooperação acontece quando Charles Xavier (mutante) e Moira MacTaggert (não-mutante) estão unidos para um propósito que é evitar a guerra
nuclear entre os Estados Unidos e a Rússia. Charles e Moira atuam como
conciliadores, evitando que os conflitos e os estereótipos se intensifiquem e a
comunicação se torne mais difícil.
Blog incrível. Um trabalho primoroso de um grupo criativo e competente... só me faz pensar na segunda edição do Nó Górdio, será que temos coragem!?
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