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  • quarta-feira, 12 de setembro de 2018

    As redes sociais e as relações interpessoais: reflexões fenomenológico-existenciais


    AS REDES SOCIAIS E AS RELAÇÕES INTERPESSOAIS: 
    REFLEXÕES FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAIS

    Ana Rita Coelho Guimarães
    Arnon Lopes Franklin
    Gláucio de Lima Silva
    Ivana Nunes da Silva
    Joquebede de Queiroz Santana
    Renata Cavalcanti de Morais Ferreira Costa
    Valéria Paixão de Oliveira

      

    As redes sociais estão cada vez mais presentes no cotidiano da sociedade moderna. Muitos autores escreveram sobre a influência dessas sobre as relações interpessoais.  No presente artigo, apresentaremos uma visão fenomenológica sobre as redes sociais, apresentando pontos de vista positivos e negativos sobre a temática. 
    Como disse o sociólogo polonês Zygmunt Bauman: “as relações escorrem pelo vão dos dedos”, ou seja, não possuem solidez ou profundidade e os indivíduos prezam pelo hedonismo e pelo narcisismo. Na Sociedade Líquida de Bauman, o contato via rede social tomou o lugar de boa parte das relações interpessoais, sendo a marca principal dessa sociedade a ausência de comprometimento. As relações se misturam e se condensam em laços momentâneos, frágeis e volúveis, sejam reais ou virtuais.
     Para Maria Silva, em seu artigo sobre as redes sociais e seus impactos nas relações sociais: “isolar-se no mundo virtual, fazendo dele a única atividade existente na vida, poderá desencadear um efeito contrário, ou seja, o que se chama Rede Social, fará surgir um Ser anti-social, estressado e com a saúde afetada com distúrbios como depressão, síndrome do pânico, anorexia, entre outras, cujas causas poderão ser o vício em Internet.”        
    Como pontua Miskolci e Balieiro, 2018 apud Sherry Turkle (2011), as relações mediadas em rede estariam criando subjetividades com dificuldades relacionais devido a preponderância de relações editadas, sem espontaneidade e com menor exposição emocional dos envolvidos. Esta configuração pode apontar transformações descontroladas e desintegradoras que podem afetar os sujeitos naquilo que eles têm de mais profundo: sua subjetividade. Ao se verem dominados pela forma objetual de suas relações, passam de um self interiorizado para outro criado para a aprovação alheia. Esta passagem é o que Carl Rogers considera naexperiência do próprio sujeito como os processos angustiantes de insatisfação que se assenta na diferença entre self real e self ideal.
    Por outro lado, a ascensão das redes sociais facilita bastante a obtenção e a manutenção de contatos. Antes do século XXI, uma simples mudança de cidade tornava dificultada a interação com seus antigos amigos. De acordo com Barry Wellman, da Universidade de Toronto, as redes sociais propiciam ao sujeito ter mais amigos. Na última década, a média de amizades das pessoas que mais utilizam a Internet cresceu mais do que as que não a utilizam.
    O problema neste sentido se resume nos efeitos que estas relações assumem na comunicação em rede sociais em suas dimensões fenomênicas. Um dos autores que problematizam esta questão é Pierre Levy (1996), que aponta o fato deste fenômeno permitir criar situações em que vários sistemas de proximidades e vários espaços práticos passam a coexistir.


      
    Cada novo agenciamento, cada “máquina” tecnossocial acrescenta um espaço-tempo, uma cartografia especial, uma música singular a uma espécie de trama elástica e complicada em que as extensões se recobrem, se deformam e se conectam, em que as durações se opõem, interferem e se respondem. A multiplicação contemporânea dos espaços faz de nós nômades de um novo estilo: em vez de seguirmos linhas de errância e de migração dentro de uma extensão dada, saltamos de uma rede a outra, de um sistema de proximidade ao seguinte. Os espaços se metamorfoseiam e se bifurcam a nossos pés, forçando-nos à heterogênese. (Lévy, 1996, p. 23).



    O autor nos faz refletir sobre a utilidade e o significado do mundo virtual como vetor da criação da realidade, como processo do “devir outro” e do “acolhimento da alteridade”, que devem ser considerados como fatos sociais concretos que produzem efeitos na realidade, uma vez que vai se complexificando em seu processo de desenvolvimento tecnológico.
    As redes sociais virtuais são ambientes naturalmente propensos às atividades de interação, discussão e construção do conhecimento coletivo. É terreno fértil para a gestão colaborativa por serem espaços nos quais o consumidor está presente e envolvido com a proposta, bem como disposto a debater e efetivamente opinar. (Dambrós & Reis,2008)
    Por esse prisma, percebe-se há uma visão paradoxal das redes sociais: muitos as consideram benéficas e muitos as consideram maléficas. Compreender este fenômeno em um caminho fenomenológico nos ajuda a entender o modo como os sujeitos, usuários ou não das redes sociais, percorrem nesse espaço cibernético, nas formas de se estar, se utilizar, de como tem se configurado este movimento relacional do “devir outro” e do “acolhimento da alteridade”.


             
     Referências

    1.             Zygmunt Bauman – Amor Líquido
    2.             Barry Wellman, Janet Salaff, Dimitrina Dimitrova, Laura Garton, Milena Gulia, and Caroline                    Haythornthwaite. Computer Networks as Social Networks: Collaborative Work, Telework, and Virtual      Community
    3.          AMATUZZI, M.M. Rogers: ética humanista e psicoterapia. Alínea. 2010. ___________. 2010. Por uma Psicologia Humanista. Campinas: Editora: Alinea; 3ª ED.
    4.            BAYM, Nancy K. (2010), Personal connections in the digital age. 1. ed. Cambridge: Polity Press.
    5.            LÉVY, Pierre. O que é virtual? São Paulo: Editora 34, 1996.
    6.       MISKOLCI, Richard; BALIEIRO, Figueiredo Fernando de. Sociologia Digital: balanço provisório e desafios, Revista Brasileira de Sociologia | Vol. 06, No. 12 | Jan-Abr/2018, Artigo recebido em 22/09/2017 / Aprovado em 12/12/2017.
    7.       SIBILIA, Paula. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. 286 p.
    8.       TURKLE, Sherry. (2011), Alone together: why we expect more from technology and less from each   other.1. ed. New York: Basic Books.
    9.          WAIZBORT, Leopoldo. As aventuras de Georg Simmel. São Paulo: Editora 34, 2000.

    10.   Dambrós, J., & Reis, C. (2008). A marca nas redes sociais virtuais: uma proposta de gestão colaborativa, Anais do Congresso Brasileiro de Ciências Da Comunicação, Natal, RN, Brasil, 31.

    Mais textos sobre Cotidiano:

    Texto escrito por estudantes de Psicologia e alunos de outros cursos da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) durante o semestre 2018.1 de modo a integrar diversas disciplinas, alunos de outros períodos e a turma como um todo. O resultado de tudo isso é o nosso Nó Górdio! Obrigado pela leitura! =]

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