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  • quarta-feira, 12 de setembro de 2018

    As contribuições da teoria walloniana e análise comportamental aplicada na terapia de transtorno do espectro autista em relação com o âmbito escolar


    AS CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA WALLONIANA E ANÁLISE COMPORTAMENTAL APLICADA NA TERAPIA DE TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA EM RELAÇÃO COM O ÂMBITO ESCOLAR.
    Victória Duarte Acioly Filgueira1, Isabella Dourado Bastos Reis1, Laura Carvalho Brandão1, Lucas de Oliveira Santos1, Mariana Barbosa de Souza1, Monique Emily Nunes dos Santos1.
    1-       UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO

    RESUMO
    O autismo é um transtorno que traz dificuldades de ordem física e sociocognitivas que interferem no processo de aprendizagem das crianças portadoras, tais dificuldades, no entanto, não devem ser consideradas incapacitantes, visto que crianças autistas podem desenvolver suas capacidades, desde que sejam dadas condições para que isso seja possível. Dessa forma, este trabalho objetiva apresentar a importância do desenvolvimento e da aprendizagem da criança na infância, levando em consideração a atividade escolar com base nos estudos de Wallon e na Análise do Comportamento Aplicada (ABA).

    Palavras-chave: Autismo; aprendizagem; desenvolvimento; Wallon; Análise do comportamento.

    ABSTRACT
    Autism is a disorder that causes physical and sociocognitive difficulties that interfere with the learning process of the children who are carriers. However, these difficulties should not be considered as disabling, as autistic children can develop their abilities, provided a healthy environment. Thus, this work aims to present the importance of children's development and learning in childhood, taking into account school activity based on the Wallon studies and the Applied Behavior Analysis (ABA).

    Keywords: Autism; learning; development; Wallon, Behavior Analysis.

    1. INTRODUÇÃO
    O transtorno do Espectro Autista (TEA), mais conhecido como Autismo, é um transtorno de início precoce com atrasos e desvios no desenvolvimento das habilidades sociais e comunicativas que fazem com que a criança demonstre características específicas envolvendo uma grande dificuldade de interagir e se comunicar com os outros além de possuir um interesse repetitivo e restrito em determinadas atividades. Algumas características só aparecem mais tardiamente e outras vão diminuindo a intensidade ou desaparecendo ao longo do tempo. Geralmente é diagnosticado entre os 2 e 3 anos de idade e quanto antes o diagnóstico for feito, maiores serão as chances da criança ter um desenvolvimento melhor e superar algumas dificuldades.
    Um dos grandes desafios dos portadores do TEA é a inclusão escolar, e por conta dos níveis de comprometimento cognitivo diferenciados, os obstáculos são ainda maiores. Entretanto, é preciso que a escola seja um espaço que estimule o potencial, a integração social e o crescimento individual e social, estando preparadas para receber e dar suporte às crianças autistas. Nesse campo educacional, Wallon desenvolveu várias pesquisas sobre o desenvolvimento infantil, contemplando os aspectos da afetividade, da motricidade e da inteligência e de acordo com as características universais do autismo sendo a dificuldade na interação, as alterações na linguagem e nas relações sociais foi possível aplicar nesse processo os recursos da teoria Walloniana. A produção de práticas psicopedagógicas para crianças portadoras de TEA desenvolveu-se mais na área de análise do comportamento, pois seus métodos de intervenção garantiam aos educadores meios de mensuração dos resultados, também muito pragmáticos e versáteis trabalham todos os principais aspectos da teoria Walloniana a Motricidade, Inteligência e Afetividade, através de um sistema de estímulo, resposta e reforço. 

    2. DESENVOLVIMENTO
    A prática da escolarização inclusiva é possível quando o aluno é encarado como sujeito de direitos, quando o planejamento pedagógico contempla suas especificidades, sem rotulá-lo, desenvolvendo suas habilidades cognitivas, comunicacionais e sociais, com o objetivo de ajudar em limitações e promovendo condições necessárias para a vida em comunidade. Wallon foi um dos precursores a pensar na contribuição da inclusão de crianças com deficiência no ambiente escolar e sua teoria é identificada como a psicologia da pessoa completa. O desenvolvimento deveria ser estudado de forma integral, cognitiva, motora e afetiva, recusando assim abordagens que deixassem de lado qualquer uma das dimensões citadas, desta forma a escola deveria tratar todos com a mesma relevância. Essa perspectiva tornou a teoria Walloniana um marco histórico, devido a esse pensamento inovador vemos que o mesmo cita em livros até como título “As Origens” de determinada coisa e não “A Origem” e, para Wallon todo processo psicológico tem origens orgânicas, mas ele destaca a relevância das influências socioambientais como base crucial para a compreensão desses processos, ou seja, ele entende que a estrutura biológica é a primeira condição para a atividade psíquica. Ao pensar em tratamentos dentro do transtorno espectro autista encontra-se inicialmente uma diferença nos níveis de comprometimento e sintomas desenvolvidos, que não são exclusivos do autismo, perante tais variáveis as pesquisas em análise do comportamento se destacaram devido a sua versatilidade, desenvolvendo tratamentos com equipes multidisciplinares capazes de usarem a mesma abordagem técnica, entre elas a Terapia ABA (Intervenção em análise do comportamento aplicada). Os métodos usados incluem uma ampla gama de ferramentas, entre elas a Terapia como serviço no local escolar, remetendo a Henri Wallon devido a compreensão da escola como estímulo relevante no desenvolvimento. É perceptível que os educandos autistas enfrentam mais dificuldades no ambiente educacional, alguns demonstram dificuldade de sequenciar, déficit de atenção, agressividade e dificuldade de organização, a teoria de Wallon traz a afetividade como um ponto central, tanto na construção da pessoa e dos processos processos psicológicos como também do desenvolvimento, o que se assemelha  a análise do comportamento aplicada que vai buscar a identificação das variáveis que estão presentes no estabelecimento de controle dos estímulos, onde a afetividade vai ser trabalhada, pois sua relevância sobre as escolhas do indivíduo com TEA (Transtorno Espectro Autista) o DSM-IV-TR (2000) apresenta o TEA como um distúrbio global do desenvolvimento caracterizado por prejuízos comportamentais, que foram divididos e agrupados em três categorias principais, (1) comprometimento da interação social, (2) comprometimento da comunicação e (3) padrões restritos, repetitivos e estereotipados de comportamento, mas como citado acima os sintomas alteram de acordo com o indivíduo, “Do ponto de vista analítico-comportamental a o autismo é uma síndrome de déficits e excessos que (pode ter) uma base neurológica, mas que está, todavia sujeita a mudança, a partir de interações construtivas, com o ambiente físico social”
    (green 2001). Essas análises desenvolveram métodos que utilizam de estímulos e avaliam o desempenho.

    Análise comportamental aplicada em pesquisas

    Para desenvolver terapias dentro da análise comportamental foram feitas diversas pesquisas que demonstraram a relevância da afetividade na influência sobre escolha dos reforçadores, o que remete a um desenvolvimento de ferramentas pedagógicas educativas que se apropriaram dessas pesquisas, tais ferramentas utilizam o modelo de operantes verbais para apresentar o estímulo, sempre tendo os reforçadores positivos ligados a afetividade. Serão citadas algumas pesquisas a grosso modo para explicitar o modelo básico que originou tais ferramentas.

    Estímulo
    Brinquedos e alimentos preferidos do participante.
    Resposta
    Vocalização em frente ao Objeto (prompt verbal “você quer ?”.
    Reforçador
    Item comestível preferido.
    Estímulo
    Caixas com objetos “atrativos” dentro.
    Resposta
    Emitir os mandos (perguntas) “o que é?” “posso ver?” “posso tocar?”  frente às caixas.
    Reforçador.
    Estímulo
    Objetos escolhidos com base no repertório verbal prévio de cada participante.
    Respostas
    Emitir tatos (sinais) apropriados frente a objetos (prompts “o que é isto?” e “sinalize_____”
    Reforçadores
    Acesso ao conteúdo da caixa (dizer os nomes e mostrar os objetos como condicionadores)


    Artigo
    Visual identity matching and auditory-visual matching: a procedural note. (Kelly, Green & Sidman, 1998)
    Correspondência de identidade visual e correspondência auditivo-visual: uma nota de procedimento.
    Estímulo
    Figuras, números, letras e seus respectivos nomes ditados (modelos)
    Resposta
    Tocar os estímulos apresentados em monitor com tela sensível
    Reforçador
    Tom melódico e seis itens comestíveis (no qual o participante escolhia um)

    C
    omo as pesquisas mostram a necessidade de se trabalhar a afetividade em reforços positivos e, os avanços que as crianças obtiveram foram mensurados e comprovados, essas pesquisas foram e são influentes no desenvolvimento e modelação das terapias que hoje contam com profissionais de diversas áreas trabalhando com a mesma abordagem teórica.

    Aspectos básicos da teoria Walloniana

    Afetividade
    O Silva Dener identifica como “A emoção é a resposta orgânica, sustentada por centros nervosos específicos, de que o bebê dispõe para lidar com seu meio. Mas ela não é apenas instrumental, é igualmente expressiva ou comunicativa. Sua principal função na espécie humana é a ativação do outro”, por se mostrar através de movimentos e expressões falando a grosso modo molda o corpo, Wallon entende emoção como altamente orgânica. Para Wallon a afetividade é construída em como ele se relaciona com o mundo e como ele se relaciona com os demais, partindo da perspectiva Walloniana com uma visão analitíca-comportamental a afetividade pode e é condicionada.

    Inteligência
    Vai ser predominante em dois estágios do desenvolvimento, Wallon vai entender inteligência como capacidade de resolução de problemas e capacidade de significação do ambiente ao seu redor, sendo assim ele vai dividir em dois tipos de inteligência, a inteligência prática adquirida através da interação com objetos e ambiente que vai se ligar diretamente a marcha, e a inteligência discursiva que vai ser adquirida pela imitação e apropriação da linguagem devido a capacidade de significação adquirida no segundo estágio do desenvolvimento, a sociedade e para o homem uma “necessidade orgânica” que vai ser relevante na determinação do seu desenvolvimento e portanto da sua inteligência.

    Motricidade
    Antes da aquisição da linguagem a motricidade é existencial e essencial da criança, a motricidade é simultaneamente e sequencialmente a primeira estrutura de relação e correlação com o meio, com os outros prioritariamente e com os objetos posteriormente, Wallon entende como a primeira forma de expressão emocional do comportamento, concretiza a aquisição dos primeiros hábitos sociais que vai permitir as funções construtivas e criadoras de se desenvolverem dentro do esperado (normal).

    Esses aspectos são utilizados na construção dos estágios do desenvolvimento da teoria Walloniana, como visto nas pesquisas acima a análise comportamental aborda todos em seus métodos, acerca dessa perspectiva a escola é o espaço onde os profissionais encontrariam o maior número de estímulos presentes, e também o melhor ambiente para se trabalhar a terapia relacionando com o contexto da socialização.


    3. CONCLUSÃO
    Dessa forma, o âmbito escolar deve ser lugar de interferência comportamental e pedagógica para preparar sempre aquele ambiente às necessidades e capacidades da criança diagnosticada, prezando o desenvolvimento através de estímulos afetivos e reforçadores ligados a afetividade, exercícios que desenvolvam a motricidade e sua capacidade para tarefas delicadas, atribuindo ao ambiente prazeres ligado às atividades do educando, e a forma com que o autista significa o ambiente, pois a inteligência discursiva terá suas origens no estágio sensório motor e projetivo, onde espera-se o diagnóstico do transtorno. Assim, chega-se à conclusão que a colaboração da teoria Walloniana como interferência pedagógica e a contribuição da análise do comportamento, são considerados caminhos possíveis para o entendimento da pessoa com TEA e seu desenvolvimento.

    REFERÊNCIAS

    CARVALHO, Jenifer . Inclusão dos autistas nas escolas. Psicologia do Brasil. 2014
    CRUZ, T. Autismo e Inclusão: Experiências no Ensino Regular. Jundiaí, Paco Editorial: 2014.
    Drash, High & Tudor.Using mand training to establish an echoic repertoire in young children with autism.Analysis of Verbal Behavior are provided here courtesy of Association for Behavior Analysis International, 1999.
    Kelly, Green & Sidman.Visual identity matching and auditory-visual matching: a procedural note. Analysis of Verbal Behavior are provided here courtesy of Association for Behavior Analysis International 1998.
    MATOS, Maria; BRAGA, Gisella; STELLI, Maria; JUNIOR, Samuel - A contribuição de Wallon para o desenvolvimento e aprendizagem da criança autista. Revista ELO - Diálogos em Extensão, 2012.
    Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 2002, vol IV, nº 2
    SANTOS, Vanessa. BATISTA, Maria – Autismo, Educação e Afetividade: Um diálogo a partir das constribuições de Vygotsky, Wallon e Bowlby.CODENU, 2015.
    SILVA, Talita – O autismo e suas repercussões na aprendizagem.Portal da Educação, 2010.
    Sundberg, Endicott & Eigenheer Using intraverbal prompts to establish tacts for children with autism. Analysis of Verbal Behavior are provided here courtesy of Association for Behavior Analysis International 2000
    Williams, Donley & Keller.Teaching children with autism to ask questions about hidden objects. Analysis of Verbal Behavior are provided here courtesy of Association for Behavior Analysis International 2000.


    Mais textos sobre Saúde:

    Texto escrito por estudantes de Psicologia e alunos de outros cursos da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) durante o semestre 2018.1 de modo a integrar diversas disciplinas, alunos de outros períodos e a turma como um todo. O resultado de tudo isso é o nosso Nó Górdio! Obrigado pela leitura! =]

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