AS
CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA WALLONIANA E ANÁLISE COMPORTAMENTAL APLICADA NA TERAPIA
DE TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA EM RELAÇÃO COM O ÂMBITO ESCOLAR.
Victória Duarte Acioly
Filgueira1, Isabella Dourado Bastos Reis1, Laura Carvalho Brandão1, Lucas de Oliveira Santos1, Mariana Barbosa de Souza1, Monique Emily Nunes dos Santos1.
1-
UNIVERSIDADE
FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO
RESUMO
O
autismo é um transtorno que traz dificuldades de ordem física e sociocognitivas
que interferem no processo de aprendizagem das crianças portadoras, tais
dificuldades, no entanto, não devem ser consideradas incapacitantes, visto que
crianças autistas podem desenvolver suas capacidades, desde que sejam dadas
condições para que isso seja possível. Dessa forma, este trabalho objetiva
apresentar a importância do desenvolvimento e da aprendizagem da criança na
infância, levando em consideração a atividade escolar com base nos estudos de
Wallon e na Análise do Comportamento Aplicada (ABA).
Palavras-chave: Autismo; aprendizagem; desenvolvimento; Wallon; Análise do comportamento.
ABSTRACT
Autism
is a disorder that causes physical and sociocognitive difficulties that
interfere with the learning process of the children who are carriers. However,
these difficulties should not be considered as disabling, as autistic children
can develop their abilities, provided a healthy environment. Thus, this work
aims to present the importance of children's development and learning in
childhood, taking into account school activity based on the Wallon studies and
the Applied Behavior Analysis (ABA).
Keywords: Autism; learning; development; Wallon, Behavior Analysis.
1. INTRODUÇÃO
O transtorno do Espectro Autista
(TEA), mais conhecido como Autismo, é um transtorno de início precoce com
atrasos e desvios no desenvolvimento das habilidades sociais e comunicativas
que fazem com que a criança demonstre características específicas envolvendo
uma grande dificuldade de interagir e se comunicar com os outros além de
possuir um interesse repetitivo e restrito em determinadas atividades. Algumas
características só aparecem mais tardiamente e outras vão diminuindo a
intensidade ou desaparecendo ao longo do tempo. Geralmente é diagnosticado
entre os 2 e 3 anos de idade e quanto antes o diagnóstico for feito, maiores
serão as chances da criança ter um desenvolvimento melhor e superar algumas
dificuldades.
Um
dos grandes desafios dos portadores do TEA é a inclusão escolar, e por conta
dos níveis de comprometimento cognitivo diferenciados, os obstáculos são ainda
maiores. Entretanto, é preciso que a escola seja um espaço que estimule o
potencial, a integração social e o crescimento individual e social, estando
preparadas para receber e dar suporte às crianças autistas. Nesse campo
educacional, Wallon desenvolveu várias pesquisas sobre o desenvolvimento
infantil, contemplando os aspectos da afetividade, da motricidade e da
inteligência e de acordo com as características universais do autismo sendo a
dificuldade na interação, as alterações na linguagem e nas relações sociais foi
possível aplicar nesse processo os recursos da teoria Walloniana. A produção de
práticas psicopedagógicas para crianças portadoras de TEA desenvolveu-se mais
na área de análise do comportamento, pois seus métodos de intervenção garantiam
aos educadores meios de mensuração dos resultados, também muito pragmáticos e
versáteis trabalham todos os principais aspectos da teoria Walloniana a
Motricidade, Inteligência e Afetividade, através de um sistema de estímulo,
resposta e reforço.
2. DESENVOLVIMENTO
A prática da escolarização inclusiva
é possível quando o aluno é encarado como sujeito de direitos, quando o
planejamento pedagógico contempla suas especificidades, sem rotulá-lo,
desenvolvendo suas habilidades cognitivas, comunicacionais e sociais, com o
objetivo de ajudar em limitações e promovendo condições necessárias para a vida
em comunidade. Wallon foi um dos precursores a pensar na contribuição da
inclusão de crianças com deficiência no ambiente escolar e sua teoria é
identificada como a psicologia da pessoa completa. O desenvolvimento deveria
ser estudado de forma integral, cognitiva, motora e afetiva, recusando assim
abordagens que deixassem de lado qualquer uma das dimensões citadas, desta
forma a escola deveria tratar todos com a mesma relevância. Essa perspectiva
tornou a teoria Walloniana um marco histórico, devido a esse pensamento
inovador vemos que o mesmo cita em livros até como título “As Origens” de
determinada coisa e não “A Origem” e, para Wallon todo processo psicológico tem
origens orgânicas, mas ele destaca a relevância das influências socioambientais
como base crucial para a compreensão desses processos, ou seja, ele entende que
a estrutura biológica é a primeira condição para a atividade psíquica. Ao
pensar em tratamentos dentro do transtorno espectro autista encontra-se
inicialmente uma diferença nos níveis de comprometimento e sintomas
desenvolvidos, que não são exclusivos do autismo, perante tais variáveis as
pesquisas em análise do comportamento se destacaram devido a sua versatilidade,
desenvolvendo tratamentos com equipes multidisciplinares capazes de usarem a
mesma abordagem técnica, entre elas a Terapia ABA (Intervenção em análise do
comportamento aplicada). Os métodos usados incluem uma ampla gama de
ferramentas, entre elas a Terapia como serviço no local escolar, remetendo a
Henri Wallon devido a compreensão da escola como estímulo relevante no desenvolvimento.
É perceptível que os educandos autistas enfrentam mais dificuldades no ambiente
educacional, alguns demonstram dificuldade de sequenciar, déficit de atenção,
agressividade e dificuldade de organização, a teoria de Wallon traz a
afetividade como um ponto central, tanto na construção da pessoa e dos
processos processos psicológicos como também do desenvolvimento, o que se
assemelha a análise do comportamento
aplicada que vai buscar a identificação das variáveis que estão presentes no
estabelecimento de controle dos estímulos, onde a afetividade vai ser
trabalhada, pois sua relevância sobre as escolhas do indivíduo com TEA
(Transtorno Espectro Autista) o DSM-IV-TR (2000) apresenta o TEA como um
distúrbio global do desenvolvimento caracterizado por prejuízos
comportamentais, que foram divididos e agrupados em três categorias principais,
(1) comprometimento da interação social, (2) comprometimento da comunicação e
(3) padrões restritos, repetitivos e estereotipados de comportamento, mas como
citado acima os sintomas alteram de acordo com o indivíduo, “Do ponto de vista
analítico-comportamental a o autismo é uma síndrome de déficits e excessos que
(pode ter) uma base neurológica, mas que está, todavia sujeita a mudança, a
partir de interações construtivas, com o ambiente físico social”
(green
2001). Essas análises desenvolveram métodos que utilizam de estímulos e avaliam
o desempenho.
Análise comportamental aplicada em pesquisas
Para desenvolver terapias dentro da análise comportamental foram feitas diversas pesquisas que demonstraram a relevância da afetividade na influência sobre escolha dos reforçadores, o que remete a um desenvolvimento de ferramentas pedagógicas educativas que se apropriaram dessas pesquisas, tais ferramentas utilizam o modelo de operantes verbais para apresentar o estímulo, sempre tendo os reforçadores positivos ligados a afetividade. Serão citadas algumas pesquisas a grosso modo para explicitar o modelo básico que originou tais ferramentas.
Estímulo
Brinquedos e
alimentos preferidos do participante.
Resposta
Vocalização em
frente ao Objeto (prompt verbal “você quer ?”.
Reforçador
Item comestível
preferido.
Estímulo
Caixas com
objetos “atrativos” dentro.
Resposta
Emitir os mandos
(perguntas) “o que é?” “posso ver?” “posso tocar?” frente às caixas.
Reforçador.
Estímulo
Objetos
escolhidos com base no repertório verbal prévio de cada participante.
Respostas
Emitir
tatos (sinais) apropriados frente a objetos (prompts “o que é isto?” e
“sinalize_____”
Reforçadores
Acesso ao
conteúdo da caixa (dizer os nomes e mostrar os objetos como condicionadores)
Artigo
Visual
identity matching and auditory-visual matching: a procedural note. (Kelly,
Green & Sidman, 1998)
Correspondência
de identidade visual e correspondência auditivo-visual: uma nota de
procedimento.
Estímulo
Figuras, números,
letras e seus respectivos nomes ditados (modelos)
Resposta
Tocar
os estímulos apresentados em monitor com tela sensível
Reforçador
Tom
melódico e seis itens comestíveis (no qual o participante escolhia um)
Como as pesquisas mostram a necessidade de se trabalhar a afetividade em reforços positivos e, os avanços que as crianças obtiveram foram mensurados e comprovados, essas pesquisas foram e são influentes no desenvolvimento e modelação das terapias que hoje contam com profissionais de diversas áreas trabalhando com a mesma abordagem teórica.
Aspectos básicos da teoria Walloniana
Afetividade
O
Silva Dener identifica como “A emoção é a resposta orgânica, sustentada por
centros nervosos específicos, de que o bebê dispõe para lidar com seu meio. Mas
ela não é apenas instrumental, é igualmente expressiva ou comunicativa. Sua
principal função na espécie humana é a ativação do outro”, por se mostrar
através de movimentos e expressões falando a grosso modo molda o corpo, Wallon
entende emoção como altamente orgânica. Para Wallon a afetividade é construída
em como ele se relaciona com o mundo e como ele se relaciona com os demais,
partindo da perspectiva Walloniana com uma visão analitíca-comportamental a
afetividade pode e é condicionada.
Inteligência
Vai
ser predominante em dois estágios do desenvolvimento, Wallon vai entender
inteligência como capacidade de resolução de problemas e capacidade de
significação do ambiente ao seu redor, sendo assim ele vai dividir em dois
tipos de inteligência, a inteligência prática adquirida através da interação
com objetos e ambiente que vai se ligar diretamente a marcha, e a inteligência
discursiva que vai ser adquirida pela imitação e apropriação da linguagem
devido a capacidade de significação adquirida no segundo estágio do
desenvolvimento, a sociedade e para o homem uma “necessidade orgânica” que vai
ser relevante na determinação do seu desenvolvimento e portanto da sua
inteligência.
Motricidade
Antes
da aquisição da linguagem a motricidade é existencial e essencial da criança, a
motricidade é simultaneamente e sequencialmente a primeira estrutura de relação
e correlação com o meio, com os outros prioritariamente e com os objetos
posteriormente, Wallon entende como a primeira forma de expressão emocional do
comportamento, concretiza a aquisição dos primeiros hábitos sociais que vai
permitir as funções construtivas e criadoras de se desenvolverem dentro do
esperado (normal).
Esses aspectos são utilizados na construção dos estágios do desenvolvimento da teoria Walloniana, como visto nas pesquisas acima a análise comportamental aborda todos em seus métodos, acerca dessa perspectiva a escola é o espaço onde os profissionais encontrariam o maior número de estímulos presentes, e também o melhor ambiente para se trabalhar a terapia relacionando com o contexto da socialização.
3. CONCLUSÃO
Dessa forma, o âmbito escolar deve
ser lugar de interferência comportamental e pedagógica para preparar sempre
aquele ambiente às necessidades e capacidades da criança diagnosticada,
prezando o desenvolvimento através de estímulos afetivos e reforçadores ligados
a afetividade, exercícios que desenvolvam a motricidade e sua capacidade para
tarefas delicadas, atribuindo ao ambiente prazeres ligado às atividades do
educando, e a forma com que o autista significa o ambiente, pois a inteligência
discursiva terá suas origens no estágio sensório motor e projetivo, onde
espera-se o diagnóstico do transtorno. Assim, chega-se à conclusão que a
colaboração da teoria Walloniana como interferência pedagógica e a contribuição
da análise do comportamento, são considerados caminhos possíveis para o
entendimento da pessoa com TEA e seu desenvolvimento.
REFERÊNCIAS
CARVALHO, Jenifer . Inclusão dos autistas nas escolas. Psicologia do Brasil. 2014
CRUZ, T. Autismo e
Inclusão: Experiências no Ensino Regular. Jundiaí, Paco Editorial: 2014.
Drash,
High & Tudor.Using mand training to establish an echoic repertoire in young
children with autism.Analysis of Verbal Behavior are provided here courtesy of Association for Behavior Analysis
International,
1999.
Kelly,
Green & Sidman.Visual identity matching and auditory-visual matching: a
procedural note. Analysis of Verbal Behavior are provided here courtesy of Association for Behavior Analysis
International
1998.
MATOS, Maria; BRAGA,
Gisella; STELLI, Maria; JUNIOR, Samuel - A contribuição de Wallon para o
desenvolvimento e aprendizagem da criança autista.
Revista ELO - Diálogos em Extensão, 2012.
Revista Brasileira de
Terapia Comportamental e Cognitiva, 2002, vol IV, nº 2
SANTOS, Vanessa. BATISTA, Maria – Autismo, Educação e
Afetividade: Um diálogo a partir das constribuições de Vygotsky, Wallon e
Bowlby.CODENU, 2015.
SILVA, Talita – O autismo e
suas repercussões na aprendizagem.Portal da Educação, 2010.
Sundberg,
Endicott & Eigenheer Using intraverbal prompts to establish tacts for
children with autism. Analysis of Verbal Behavior are provided here courtesy of Association for Behavior Analysis
International
2000
Williams,
Donley & Keller.Teaching children with autism to ask questions about hidden
objects. Analysis of Verbal Behavior are provided here courtesy of Association for Behavior Analysis
International 2000.
Seja o primeiro a comentar!
Deixe teu comentário!