INTRODUÇÃO
Historicamente,
a obesidade sempre esteve presente – desde as sociedades paleolíticas (evidenciada
através de pinturas rupestres) até os dias atuais – seguindo os seus mais
complexos dinamismos sociais.
Representações
sociais da obesidade são criadas pelo senso comum e compartilhadas através do
mesmo. Para que uma representação social possa ser criada, as pessoas precisam
primeiro analisar um fenômeno que faz parte do seu grupo contextual (nos
quesitos sócio históricos e econômicos), ter uma comunicação sobre tal fenômeno
e fazer com que o mesmo seja exposto nos meios de comunicação em massa,
atrelado a conclusão relacionada à análise do mesmo.
Dito
isso, percebe-se que, em momentos como na idade média, a obesidade é
representada positivamente porque o sobrepeso estava atrelado a uma condição
financeira mais elevada, tendo em vista que a maior parte da população sofria
com a fome e pobreza. Entretanto, nas sociedades atuais, nota-se uma interpretação
e representação diferente da obesidade.
Este
trabalho tem como objetivo, à luz dos conhecimentos adquiridos nas matérias
Genética Humana, Processos Psicossociais, Teorias Psicogenéticas e Psicologia
Fenomenológica-Existencial, trazer este novo olha, a atual representação da
sociedade sobre a obesidade, visando uma maior compreensão, ao mesmo tempo em
que traz uma reflexão sobre o tema por nós escolhido.
A
GENÉTICA DA OBESIDADE
Obesidade
é uma condição médica multifatorial caracterizada pelo excesso de gordura
corporal e associado com um desequilíbrio crônico entre energia ingerida e
energia gasta, o que causa prejuízos à saúde do indivíduo. A obesidade coincide
com um aumento de peso, mas nem todo aumento de peso está relacionado à obesidade,
a exemplo de muitos atletas que são “pesados” devido à massa muscular e não
adiposa. No Brasil, cerca de 50% da população adulta está a cima do peso. Cerca
de 20% da população está obesa³. Segundo a OMS, a obesidade triplicou desde
1975, e em 2016 1,9 bilhões de adultos pelo mundo estavam com sobrepeso; 650
milhões estavam obesos. A projeção para 2025 só aumenta, chegando a 750 milhões
de obeso pelo mundo4.
Atualmente,
há várias maneiras de se classificar e diagnosticar a obesidade como medir a
distribuição regional da gordura (fazer a relação cintura/quadril, abdominal e
dos depósitos viscerais internos, nas regiões glúteas e femorais), mas a
principal entre adultos é através do cálculo de Índice de massa corporal (que
também é associado com esses outros métodos).
O
índice de massa corporal é medido pela massa atual da pessoa dividido pela
altura dela ao quadrado.
Vamos
imaginar que dona Josefa, seja sedentária e tenha 1,60 e esteja pesando 90 kg
IMC=
90/(1,6)² = 90/2,56= 35kg/m².
Se
o resultado do índice passar de 30, segundo o IMC, a pessoa está obesa.
Isso
Significa, de acordo com a tabela de kg/m², que dona Josefa muito provavelmente
esteja com obesidade de grau 2.
Quanto
maior o IMC da pessoa com a obesidade, maiores probabilidades de ela ter
efeitos adversos para a saúde, como doenças cardiovasculares, diabete melitus
tipo 2 e câncer, apneia do sono obstrutiva e até depressão5.
As
causas mais comuns da obesidade são variadas, incluindo uma combinação de dieta
hiperenergética, falta de exercício
físico e suscetibilidade genética. Hoje eu vou focar na parte genética.
A
base genética da obesidade é complexa e várias pesquisas e teorias têm sido
feitas a respeito. Então, o assunto é ainda objeto de muitos estudos.
Ao
que as pesquisas indicam, as bases genéticas podem exercer grande influência.
Segundo
um estudo feito pela UNB e outras instituições6, há um grande risco
dentre os casos de obesidade: se pai e mãe forem obesos, há a probabilidade de
80% que os filhos sejam obesos; se, apenas um for obeso, 40% de chance; se
nenhum for obeso, 10%. Como a doença é multifatorial, ou seja, tem diversas
causas, é difícil distinguir os efeitos dos genes dos efeitos ambientais, como
hábitos alimentares, cultura, estilo de vida e sedentarismo em indivíduos que
vivem no mesmo ambiente.
Mesmo
assim, diversos estudos demonstram de forma
evidente a participação do componente genético na incidência da obesidade.
Estima-se que entre 40% e 70% da variação no fenótipo associado à obesidade tem
um caráter hereditário. A influência genética como causa de obesidade pode
manifestar-se através de alterações no apetite ou no gasto energético7.
Outros estudos sugerem uma concordância de
0.7-0.9 entre gêmeos monozigóticos, em comparação com 0.35-0.45 entre gêmeos
dizigóticos em obesos. Estes valores não diferem significativamente entre
gêmeos criados separados e gêmeos criados juntos, e entre gêmeos criados ou não
pelos próprios pais. Pesquisas e identificações foram facilitadas com o projeto
genoma humano, que sugerem alguns genes que exercem influência para a
obesidade, como os: FTO, o gene fat mass and obesity associated (FTO) é
altamente expresso no hipotálamo, sugerindo um potencial papel do FTO no controle
da ingestão alimentar e do metabolismo corporal; Gene do Receptor da Leptina
(LEPR), a leptina consiste numa proteína produzida e secretada principalmente
pelo tecido adiposo branco, que se destaca pela atividade de regulação da
ingestão alimentar e controle do gasto energético através da ação sobre
receptores da leptina localizados no hipotálamo; Receptores de Melanocortinas
Tipos 4 e 3 (MC4R e MC3R), que estão implicados na regulação do peso corporal,
modulando o gasto energético e a ingestão alimentar8.
A
obesidade é, como já dito, um complexo tema multifatorial que se tornou uma
epidemia, é a mudança ambiental que promove excesso de ingestão calórica com
disponibilidade abundante de alimentos palatáveis e de baixo custo, e
desencoraja atividade física, com as facilidades da vida moderna decorrentes da
urbanização das cidades e do avanço tecnológico. Entretanto, para a expressão
do fenótipo e o desenvolvimento da doença é necessário o ambiente em que se
possa ser possível a obesidade, num indivíduo geneticamente predisposto.
A REPRESENTAÇÃO DA OBESIDADE NA ATUAL SOCIEDADE BRASILEIRA
Com o advento dos
avanços científicos e maior disponibilidade de alimento, a obesidade
passa a ser vista e apresentada pela mídia (que se apropria de conceitos
científicos para fazer com que informações circulem) como sinônimo de doença,
tornando-a uma condição opositora ao “corpo desejável”, e fazendo com que as pessoas passem a ter uma representação
social negativa da obesidade.
É
interessante lembrar que, hoje, é convencional para as classes mais poderosas
manter essa dicotomia, onde é imposta uma ditadura da beleza e inicia-se a
interminável corrida pelo “corpo perfeito”. O setor médico, a indústria
farmacêutica e mesmo o mercado negro lucram com a consultas, cirurgias e
medicamentos cada vez mais revolucionários. A mídia governa solene ao dizer o
que é prejudicial à saúde do bolso do anunciante e, não menos importante, o
estado recolhe montanhas de impostos.
Tendo
em mente todo esse contexto, foi realizada uma entrevista com um sujeito (que
será referido como indivíduo 1) onde pode ser constatado alguns desses fatores.
Ao ser questionado se estava bem com o seu corpo, o mesmo, respondeu: “Sim,
pois, foi desse jeito que vim ao mundo... fofinho, gordinho e eu me aceito
assim”. O Indivíduo 1 também relatou que sempre praticou esportes para manter a
saúde e não ter problemas no coração, pressão, ter um AVC, entre outros. No
entanto quando questionado se acreditava que ao fazer exercícios físicos
poderia emagrecer, o mesmo disse ter alguma crença e desejar isso, porém, ao
mesmo tempo não se considera capaz de manter dietas.
E
não é por menos que o entrevistado põe a preocupação com o emagrecimento em
segundo plano, uma vez que dentre a dedicação ao seu hobby, a vida social
inalterada e o prazer em sua alimentação, só surge espaço para esta preocupação
quando os outros – inclusive os familiares – trazem esse tópico à tona, ou
quando Indivíduo 1 se depara com a balança e a necessidade de roupas novas – o
que evidencia as representações sociais que outras pessoas fazem sobre a
obesidade e que ele, também, é um pouco influenciado e pressionado por ela.
Entretanto o que é importante para o entrevistado é o equilíbrio entre sua
saúde e o bem-estar, sua demanda, inclusive, focaliza-se na maior existência de
diálogos contra as piadas perversas socialmente aceitas.
Porém,
para além do entrevistado, a condição de sobrepeso assume o papel de identidade,
isto é, se há aqueles como o Indivíduo 1 que decidem emagrecer, há outros que
encontram sentido e encaram o problema apenas como um inconveniente devido ao
controle dos sinais associados (hipertensão, hérnia, apneia, etc.). Para estas
pessoas, as piadas naturalizadas (considerada como “normais”) pelo indivíduo 1 assumem
uma gravidade maior, tornam-se afronta, dificultam a vida profissional e
justificam a agressão – física e verbal – pelos grupos intolerantes. Essas
outras pessoas lutam por um senso de beleza mais flexível, fazem seu lugar na
moda com o plus size e coexistem com
suas crenças e costumes assim como qualquer um.
É
importante entender que a equivalência, a dignidade e o cuidado são os pilares
por trás do conceito de inclusão, erroneamente resumido, pela própria ONU
inclusive, à mera aquisição de direitos, pauta já banalizada no presente momento
social brasileiro. Exigem-se direitos para quem paga impostos, para quem ganha
menos, para os estigmatizados e assim por diante. Claro, cada luta detém seus
méritos, mas dessa forma é inevitável que a “conquista de direitos” se torne o
novo pão do circo, principalmente quando nenhum dos três pilares demanda
explicitamente qualquer tipo de intervenção, na verdade, a presença da
intervenção representa um fracasso social.
As
demandas de assistência médica e medicamentosa, de bom transporte público, de
representatividade midiática e de respeito estão longe de serem exclusividade
população “conscientizada” obesa, aliás, fora a aparência e um IMC elevado, o
que faz dos obesos uma “classe” à parte que precisa se movimentar para adquirir
o que não lhes é exclusivo? Como fenômeno social o pânico que sonda o tema é recente
e as pessoas com obesidade, assim como as pessoas sem obesidade, possuem outras
tantas preocupações e necessidades capazes de definir suas próprias vidas, não
faz sentido a existência de uma classe, de qualquer classe, aliás, a menos que
seja consequência inevitável de todos os fatores envolvidos. Nesse sentido, o
tratamento correto da coisa mesma não seria tomar a classe “pessoas com
obesidade”, dividir entre seus tipos e listar suas necessidades, mas olhar para
a raiz de suas demandas e objetivamente entender seus benefícios e o que as
impede. Ao menos, essa é a natureza da administração pública, deixa-la em
segundo plano ao ponto de ser necessário um movimento e uma classe para que
funcione. É a síntese do fracasso.
E
ante ao fracasso é cabível a atitude do indivíduo, o único capaz de exercer a
civilidade, de cuidar do outro e ser tomo
da sociedade. Pela atitude cívica é possível cuidar, pelo cuidado se garante a
dignidade e com esta última se constrói a equivalência. Mesmo que, por algum
motivo particular, um indivíduo não possa contribuir, ainda, salvo raras
exceções, há a possibilidade de empatia e sensibilização. Claro que, no Brasil,
existem certas particularidades que impedem essa sensibilização, mas além da
luta por direitos, a sensibilização é o único caminho.
OBESIDADE
E O DESENVOLVIMENTO
A
obesidade é uma condição médica caracterizada pelo excesso de peso e acúmulo de
gordura corporal, causando impactos negativos à saúde. É categorizada, na 10ª
revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10), no ítem de doenças
endócrinas, nutricionais e metabólicas. Como já dito , a OMS (Organização
Mundial da Saúde) considera a obesidade como uma epidemia mundial condicionada
principalmente pelo perfil alimentar e de atividade física, sendo uma pessoa considerada obesa quando o
seu IMC - Índice de Massa Corporal (calculado pela divisão do peso da
pessoa pelo quadrado da sua altura) é superior a 30 kg/m², como dito anteriormente. Ainda segundo a
organização, existem mais de 124
milhões de crianças e adolescentes obesos no mundo e em adultos, o
excesso de peso e a obesidade atingiram 56,9% e 20,8% da população em 2013.
Segundo Onis, Blössner e Borghi (2010)1,
a prevalência mundial de
sobrepeso e obesidade infantil aumentou de 4,2% em 1990 para 6,7% em 2010, e esta
tendência deve chegar a 9% da população infantil mundial ou cerca de 60 milhões
de crianças em 2020. Existem complexas explicações (biopsicossociais) para a
obesidade, especialmente em se tratando de fases como a infância e
adolescência, onde ocorrem rápidas alterações de peso, resultante de uma
complexa interação de variáveis biológicas, comportamentais, cognitivas, familiares,
culturais e econômicas, que influenciam seu desenvolvimento e manutenção.
Henri
Wallon foi um importante teórico que se preocupou com a construção de saberes a
partir do seu objeto de estudo, o desenvolvimento humano. Por toda sua carreira
na psicologia, recorreu à observação da infância, adotando a multiplicidade de
campos onde se dá a atividade da criança. Dessa forma, propõe então, o estudo
integrado do desenvolvimento, em que há vários campos funcionais nos quais se
atribui o desenvolvimento infantil (afetividade, motricidade, cognição),
estabelecendo um estudo da criança em relação com o meio. Uma das muitas
contribuições de Wallon se dá na delimitação de estágios do desenvolvimento,
como os de Piaget, se diferenciando deste, por considerar que esses estágios
não são lineares, mas sim permeados de conflitos internos e externos. Seus
estágios são nomeados: Estágio impulsivo-emocional; estágio sensório-motor e
projetivo, estágio do personalismo; estágio categorial; estágio da
adolescência.
Nesse
sentido, a iniciação alimentar na primeira infância se mostra como sendo um dos
fatores que podem evitar o distúrbio da obesidade. Resultados de estudos2 com roedores são consistentes nas
observações de que, em seres humanos, o aleitamento materno pode ser um fator
de proteção contra a obesidade infantil. Os possíveis mecanismos desse
efeito de proteção incluem a programação metabólica ou auto regulação da
ingestão de alimentos aprendida no início da vida. Bebês alimentados com
leite industrializado antes dos 3 meses de idade apresentaram na primeira
infância IMC mais altos e maior espessura nas dobras cutâneas do que bebês
amamentados ao peito por mais de três meses.
Apesar disso, além da proteção oferecida pelo aleitamento
materno, conclui-se que fatores genéticos e fatores ambientais, tais como o
peso e o status socioeconômico da mãe, também desempenham um
papel no desenvolvimento da obesidade na infância. Dessa
forma, podemos concluir que quanto mais cedo se estabelece bons hábitos
alimentares (principalmente na fase de iniciação alimentar, que acontece na
fase impulsivo-emocional), menor é o risco de apresentar problemas relacionados
à obesidade e suas complicações em fases posteriores da vida.
Na
fase inicial citada acima, proposta por Henri Wallon, chamada de Estágio impulsivo-emocional (do nascimento ao
primeiro ano de vida), a criança não
possui coordenação motora muito bem desenvolvida, os movimentos são bem
desorientados. A criança é totalmente dependente do meio externo, é inapta a
resolver suas necessidades e precisa que o meio interprete, dê significado e
traga respostas a elas; é um estágio onde reações de cunho afetivo vão ser
geradas nos adultos. O primeiro contato social da criança será com o meio que a
rodeia, logo, o início da construção da sua identidade se dará a partir da
modulação do “eu” nesse meio, da consciência individual pelo ambiente coletivo.
Outro aspecto importante em se tratando da obesidade
infantil, é como, a partir do crescimento da criança, pôr o corpo em movimento
é importante tanto para estabelecer o desenvolvimento motor apropriado na
formação do indivíduo, sendo o movimento uma ferramenta fundamental do
estabelecimento de um organismo saudável. Esse aspecto do desenvolvimento
propõe sua ação a partir da brincadeira, e por isso, é tão importante o
estimulo corporal da criança, pois esse incentivo trará nela um combatente à
obesidade, que auxiliado por uma alimentação saudável desde o nascimento, irá
prevenir o excesso de peso.
Em outra fase de desenvolvimento proposta por Wallon,
conhecida como Estágio do Personalismo (03 à 06 anos) – em que a criança toma
conhecimento de si e começa a construir sua personalidade a partir de uma visão
do “eu” – se dá um dos períodos cruciais para pôr em prática a estimulação da
criança para a brincadeira como forma de exercício físico. Na construção da
personalidade, a criança passa nessa fase por três grandes momentos distintos:
A Oposição, onde a criança sente o prazer de confrontar e
contradizer. “É para afirmar o eu e
tornar seu ponto de vista pessoal dominante e exclusivo que o movimento de
oposição do outro assume características de confronto e de negatividade”.
(Bastos; Dér,2005, p.41)3
A Sedução, fase a criança quer ser admirada, sentir que
agrada o outro. “A criança tem a necessidade de ser prestigiada, de
mostrar que tem qualidades a ser admiradas, ou melhor, de se mostrar no que ela
acredita poder agradar aos outros para obter exclusividade de atenção”. (Bastos;
Dér, 2005, p.42)3
A Imitação, onde a criança começa a querer ter as qualidades dos outros. “Personagens são criados a partir das pessoas que a criança admira e deseja suplantar, apoderando-se de suas qualidades e méritos, uma necessidade de autossubstituir os outros.”
A Imitação, onde a criança começa a querer ter as qualidades dos outros. “Personagens são criados a partir das pessoas que a criança admira e deseja suplantar, apoderando-se de suas qualidades e méritos, uma necessidade de autossubstituir os outros.”
É justamente nessas
fases de antagonismo da personalidade infantil onde deve haver traquejo com a
criança e a estimulação correta em se tratando de exercícios físicos, atividades
com ênfase cognitiva e aspectos coordenativos (tomada de decisão), que devem ser priorizadas, ao invés de treinamentos com atividades de força e resistência, feita
de forma prazerosa e diversificada –
possibilidade de várias habilidades motoras. A alimentação também deve ser diversificada, hábitos alimentares podem ser mudados se feitos da maneira correta, de modo que a criança se habitue a uma nova dieta de forma prazerosa.
Outro estágio
importante é o que Wallon denominou de Puberdade e da Adolescência, que começa
por volta dos 11-12 anos e há um rompimento no equilíbrio com o adulto,
instalando-se uma crise, a chamada crise da puberdade, que afeta as dimensões
afetivas, cognitivas e motoras do indivíduo. É um rito de passagem da infância
para a adolescência, ocorrem modificações fisiológicas impostas pelo
amadurecimento sexual e, consequentemente, acontecem profundas modificações
físicas e psíquicas.
Segundo Wallon,
“O jovem expressa seus sentimentos com o corpo todo. Mímicas, gesticulações
exageradas tornam-se bastante frequentes, traduzindo a falta de habilidade para
dominar todo o potencial de que o novo corpo é capaz, e orientam também seu
comportamento exterior. De modo geral é por meio de brincadeiras, risadas,
conversas em tom de voz elevado e muita movimentação que o jovem expressa o
prazer em estar realizando determinadas atividades.”. Um jovem com uma
condição obesa, muitas vezes sofre bullying pela sua forma corporal, o que pode
acarretar em isolamento social, baixa auto-estima e algumas vezes, depressão e até suicídio.
Dessa forma, a psicogenética de Henri Wallon nos ajuda a compreender o desenvolvimento humano, e a psicologia vem agregar ao trabalho da nutricionista e também do educador físico, pois favorece que a criança tome consciência da necessidade da perda de peso, de forma leve e consciente pelo bem da sua saúde. O profissional irá auxiliar a criança na busca do equilíbrio de suas emoções, mudando os comportamentos, focando também em questões de autoestima, o que o levará ao desenvolvimento de uma relação adequada com a alimentação.
Dessa forma, a psicogenética de Henri Wallon nos ajuda a compreender o desenvolvimento humano, e a psicologia vem agregar ao trabalho da nutricionista e também do educador físico, pois favorece que a criança tome consciência da necessidade da perda de peso, de forma leve e consciente pelo bem da sua saúde. O profissional irá auxiliar a criança na busca do equilíbrio de suas emoções, mudando os comportamentos, focando também em questões de autoestima, o que o levará ao desenvolvimento de uma relação adequada com a alimentação.
Diante
de tudo o que já foi discutido até aqui, a fenomenologia é o estudo das
essências, mas é também uma filosofia que compreende o homem e o mundo a partir
de sua facticidade, logo o homem é um ser-no-mundo no meio histórico, cultural
e natural.
Tendo
a filosofia de Merleau-Ponty como principal referencial teórico, é fortemente
afirmado que o homem tem uma dimensão corporal e, é por meio desse corpo que são
percebidas as coisas. O
corpo é a representação de como nos situamos no mundo e é por meio dele que nos
expressamos, vivemos nossas experiências e temos vivências. Logo, compreender
como as pessoas com obesidade vivenciam seus corpos permite a aproximação do
modo como elas se expressam frente a sua existência no mundo. Esses fenômenos
precisam ser identificados e explorados para que se possa intervir no contexto
de vida da pessoa que vivencia a obesidade, valorizando a dimensão subjetiva da
doença.
Para
melhor compreender esse fenômeno, foi realizada em Petrolina-PE uma breve
entrevista com um jovem estudante obeso (que aqui será referido como “indivíduo
2”) a respeito de como é sua vivência diante da obesidade, logo sendo possível
alcançar as percepções que ele tem de si e dos outros dentro dessa situação.
A
princípio, o Indivíduo 2 deixou claro que o fato de “ter sido sempre gordo”
nunca foi um grave incômodo, porém foi relatado que a época mais difícil foi
durante a infância, afirmando que é comum para as crianças brincar com a
aparência dos outros, e isso o atravessou com maior intensidade. Atualmente,
durante sua juventude, a vivência com colegas também trouxe percepções acerca
de sua aparência, uma vez que o entrevistado sempre foi apelidado de “gordinho”
entre outras coisas do tipo, e é entendido que esses nomes não passam de uma
forma carismática e íntima de ser chamado. Entretanto, ele tem consciência de
que já houve momentos que ele se sentiu “magoado” por esses colegas quando
faziam piadas ou brincadeiras a respeito de seu corpo, a princípio sem a
intencionalidade de chateá-lo.
Além disso, o entrevistado afirmou ter
emagrecido recentemente, se sentindo assim “menos pior” do que estava antes e
consequentemente melhorando seu bem-estar consigo mesmo e com as pessoas ao seu
redor. Esse emagrecimento, de acordo com o entrevistado, foi oriundo de um
acontecimento (um término de relacionamento) que lhe entristeceu muito e assim
o fez se enxergar “sozinho”, diferente de antes, já que o relacionamento lhe
trazia certo “comodismo” diante de sua aparência. Também foi relatado que sua
relação com a comida é meramente prazerosa, sem nenhuma relação com crises
compulsivas ou ansiedade, podendo ser entendido um processo de simbolização e
de atribuição de significados à experiência vivida.
É importante ressaltar que, para a
fenomenologia, o importante é que a pessoa se compreenda e veja de forma clara
e direta, permitindo assim a mudança para o melhor. Mais importante do que
tentar “curar” de cara a pessoa obesa, é fazê-la compreender quem e o que ela
é. Em muitos casos, pessoas podem se negar a assumir para si mesmas que estão
obesas, ou mesmo ter uma visão distorcida de si, onde acreditam estar em uma
situação que não conseguirão sair. A terapia fenomenológica deve visar a
clareza e congruência da pessoa, mas sempre dentro dos limites da empatia. Não
se deve impor uma “magreza perfeita”. Longe de ser uma “romantização da
obesidade” (como algo bom e benéfico a saúde), mas o respeito às vontades e
compreensões da pessoa obesas devem estar sempre em primeiro lugar.
Com isso, pôde-se concluir que a obesidade é vivida somente pela pessoa
que a possui, entretanto, o meio em que vive pode participar empaticamente
desse processo. Assim, o corpo não deve ser percebido como um mero
objeto orgânico e alojamento de ideias no mundo, e sim como corpo vivido. O
corpo é tempo e espaço, é sensibilidade, é expressão, é fala, é linguagem. E
foi por meio dessa linguagem que houve uma abertura de mundo na medida em que
retoma, transforma e prolonga as relações de sentido iniciadas na percepção. É
por meio da descrição que a linguagem ocupa um lugar privilegiado na
fenomenologia, possibilitando interpretar e analisar o fenômeno. É trazer à
tona os sentimentos vividos das pessoas mediante a linguagem.
CONCLUSÃO
Percebemos, então, que o tema
Obesidade é extremamente amplo, atravessado pelos mais diversos fatores e
precisa ser tocado com delicadeza e profundidade. O respeito deve sempre ser o
caminho para que possamos lidar com pessoas com esta característica, buscando,
antes mesmo de forçar as pessoas a emagrecer, compreender quem elas são e o que
as levou à obesidade. Antes de tentar enquadrá-las em num perfil que
consideramos “belo”, devido às mais diversas imposições sociais, buscar uma
aproximação verdadeira, uma compreensão e oferecer apoio sempre que for
possível.
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