Victória Duarte Acioly
Filgueira1, Isabella Dourado
Bastos Reis1, Laura Carvalho Brandão1,
Lucas de Oliveira Santos1, Mariana Barbosa de Souza1,
Monique Emily Nunes dos Santos1.
1-
UNIVERSIDADE
FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO
RESUMO
Sendo o autismo um transtorno que tem
forte característica genética, mas que ainda tem boa parte da sua etiologia
genética desconhecida, possuindo estudos que ainda são inconclusivos
sobre as reais causas, o trabalho pretende fazer uma revisão bibliográfica e
discutir essas pesquisas recentes sobre
o papel genético no Transtorno de espectro autista (TEA) e como essas
descobertas podem revolucionar desde o
diagnóstico, que ainda é predominantemente
clínico, a melhor compreensão do que é o transtorno e o tratamento.
Palavras-chave: Autismo; Genética; Transtorno; Diagnóstico;Tratamento.
ABSTRACT
Being autism a
disorder that has strong genetic trait but still has an important part of
its genetics
research, there are still studies that are still inconclusive about how the
real does, which plays the role of a genetic in Autism Spectrum Disorder (ADS)
and discoveries that can revolutionize the diagnosis, which are intensely
clinical, improve what is the disorder and the treatment.
Keywords: Autism; Genetics; Disorder; Diagnosis; Treatment.
1.
INTRODUÇÃO
O Transtorno do Espectro do Autismo
(TEA) é uma deficiência de desenvolvimento que pode provocar desafios sociais,
de comunicação e comportamentais significativos, atinge um em cada 59
indivíduos, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), caracteriza-se
por limitação ou ausência de comunicação verbal, prejuízo na capacidade de
interação social e padrões de comportamento estereotipados e ritualizados. Os
sintomas e o grau de comprometimento são amplamente variáveis, onde a
manifestação dos sintomas nos casos clássicos de autismo e na síndrome de
Asperger ocorre antes dos três anos de idade e persiste durante a vida adulta.
Cerca de um terço dos casos de autismo ocorre em associação com outras
manifestações clínicas, como nos casos decorrentes de alterações cromossômicas
ou que fazem parte do quadro de alguma anomalia genética conhecida. As
anomalias genéticas mais comuns a se associar ao autismo são a síndrome do X
frágil, a esclerose tuberosa, as duplicações parciais do cromossomo 15 e a fenilcetonúria
não tratada. Não há um padrão de herança característica para o transtorno, tem
sido sugerido que o autismo seja condicionado por um mecanismo multifatorial,
ou seja, alterações genéticas associadas à presença de fatores ambientais
predisponentes que podem desencadear o aparecimento do distúrbio, os quais os
estudos epidemiológicos têm demonstrado que os fatores genéticos são os mais
importantes na determinação das causas e origens do TEA. No presente, não há
nada que diferencie as pessoas com TEA das outras pessoas fisicamente, pois
elas se diferenciam de forma comportamental, tendo formas não padrão de
interagir, comunicar-se e se comportar. O fato de não haver uma única variante
genética ou mesmo uma única combinação de genes associadas ao autismo confunde
muitas pessoas, porém os estudos realizados apontam para a existência de um
forte componente genético atuando na determinação da deficiência. Atualmente,
já existe um grande avanço nos estudos acerca do tema, o que transformou
positivamente esse cenário, com a identificação de diversos genes que estão
envolvidos no TEA.
Logo nos primeiros meses de vida já se
pode identificar os primeiros sinais do autismo, os bebês não mantêm contato
visual efetivo e não olham quando são chamados, aos 12 meses não apontam com o
dedinho, tem um atraso na fala, podem demorar a andar, e quando ocorre é feito
na ponta dos pés. A medida que vão crescendo, demonstram mais interesse em
objetos a pessoas e podem não demonstrar muitas reações à brincadeira dos pais.
Nesse contexto, as primeiras suspeitas tendem a serem observadas pelos pais, ou
responsáveis, e professores ou qualquer pessoa que mantenha um contato
constante com a criança, e é partindo dessa suspeita que é dada a recomendação
de que se procure um neuropediatra, para que possa ser feito um diagnóstico. O
diagnóstico do autismo é clínico, e é feito através da observação direta dos
comportamentos da criança, da realização de alguns testes, e da entrevista com
os responsáveis. Dado que o transtorno se manifesta em diferentes graus, não se
faz necessário que a criança apresente uma lista extensa de sintomas, pois o
autismo, às vezes, pode ser quase que imperceptível e geralmente é confundido
com timidez, falta de atenção e excentricidade. Exatamente por isso que é
definido como um espectro, pois existem vários níveis e graus de sintomas.
Logo, o diagnóstico não é um processo simples, mas é importante que logo que
surja a suspeita procure-se um médico. Além do diagnóstico comum, foram
desenvolvidos novos exames que podem ser capazes de ajudar no diagnóstico
precoce, garantindo assim o início imediato do tratamento.
2. DESENVOLVIMENTO
A progressão da produção científica
sobre o autismo esclareceu muitas dúvidas e confusões sobre as causas e as
consequências da deficiência, mas ainda não se chegou a uma conclusão. Esse
avanço se caracteriza pelo desenvolvimento de novos estudos, como o mapeamento
genético (Yi et al., 2015) e exames laboratoriais que são capazes de
identificar a presença do transtorno no indivíduo precocemente (Hahn et al,
2018), possibilitando que seja tratado mais
cedo por uma equipe multidisciplinar possa intervir e desenvolver os afetados.
Há, também, a possibilidade de fazer o exame chamado CGH-Array (Hibridização genômica
comparativa), que possibilita a identificação de alterações cromossômicas
desbalanceadas, através da análise geral de todo o genoma num único
experimento. Todas as alterações identificadas no exame de a-CGH são
pesquisadas em bancos de dados internacionais que catalogam os resultados
clínicos com a localização de genes e sua função, com isso há uma chance de
encontrar explicação genética para a vulnerabilidade ao autismo (Hoang Et al., 2017).
O foco desses estudos é descobrir o
mecanismo genético (seja herança, interação ou algum outro a ser esclarecido)
envolvido no TEA, além de descobrir quais locais do DNA estão as sequências de
genes que causam o transtorno e, consequentemente, desenvolver algum
tratamento. A grande dificuldade de se chegar a uma conclusão se dá pelo fato
do TEA, como sugerido pelo nome, possui muitas variações nas apresentações
clínicas e as características genéticas não têm um padrão esclarecido (Yi et
al., 2015). Há uma hipótese que diversos genes estão envolvidos, podendo chegar
até 33 genes (Buxbaum at al., 2014). Esses genes
podem afetar os indivíduos de forma conjunta ou isolada, ser herdados ou
multados, pois existem casos de famílias sem histórico de ocorrência do
transtorno e com filhos afetados. (Yi et al., 2015). Ou seja, não há exatamente um gene do autismo, mas muitas
variantes genéticas comuns na população, e que só produzem autismo em certas
combinações. (Polimanti et al., 2017)
Um estudo revelou que um exame
utilizado para diagnosticar epilepsia também pode detectar autismo precocemente
(O diagnóstico ocorre através da adaptação de um teste chamado
eletroencefalograma (EEG)Exames de EEG foram feitos em 99 bebês com alto risco
de desenvolver autismo, dado que seus irmãos mais velhos possuíam a síndrome, e
89 com baixa probabilidade de manifestar. (Bosl
at al., 2018). Os testes foram realizados no período de 3 a 36 meses de idade das
crianças e a adaptação foi feita com ajuda de um algoritmo, todas as crianças
se submeteram a avaliações de comportamento normalmente empregadas em consultas
clínicas para confirmar ou descartar a presença do autismo. (Bosl at al., 2018). Os algoritmos foram capazes
de acertar o diagnóstico em mais de 95% dos casos aos 3 meses de vida, aos 9
meses chegou a quase atingir os 100%, tornando possível, além da identificação
precoce, prever a gravidade. Por ser um exame de baixo custo e não invasivo, o
EEG poderia ser incluído facilmente ao check up dos bebês, Dessa forma, caso
seja constatado com outros estudos, representaria um grande avanço medicinal (Bosl at al., 2018).
Outra descoberta foi realizada por
pesquisadores de Nova York, trata-se de um teste fisiológico, efetuado através
de um simples exame de sangue, que é capaz de prever a ocorrência do TEA com
base nos metabólitos presentes no sangue. (Hahn et al, 2018). O exame possui
88% de eficácia, e o objetivo foi encontrar marcadores
fisiológicos que possibilitaram o diagnóstico precoce, ela foi feita a partir
de três estudos onde foram avaliados 154 indivíduos com autismo, com faixa
etária entre 2 e 17 anos, em que buscam padrões de metabólitos suspeitos de se
relacionarem com o transtorno (Hahn et al, 2018).
Também foi feito um
estudo que identificou exatamente onde e como ocorrem mutações dos genes do
cérebro que levam ao aparecimento do autismo (Yi et al., 2015). Eles conseguiram mapear a região do cérebro e o
período do desenvolvimento do órgão em que este processo acontece. Foi
descoberto que uma mutação ligada
ao autismo desativa Controle de Fosforilação do UBE3A (Yi et al., 2015). Esse estudo sugeriu
também que a combinação de mutações raras espontâneas pode causar o espectro,
mas ainda é algo inconclusivo. Foi realizado fazendo o mapeamento genético de
516 famílias com uma criança autista e um irmão não afetado, e sugeriu que o
autismo foi causado por uma nova mutação e é oligogênico. (Yi et al.,
2015)
3. CONCLUSÃO
Os sinais referentes
ao transtorno não são detectáveis ou acessíveis e podem demorar anos para se
tornarem evidentes. Consequentemente, ocorre um retardo no auxílio e apoio que
a criança poderia receber, em seus primeiros anos de vida. O diagnóstico
precoce é de considerável importância na assistência às pessoas com TEA, para
que novas habilidade, a socialização e a comunicação sejam estimuladas, para que
assim os pais ou responsáveis busquem informações de como lidar com a situação.
Com o diagnóstico há possibilidade de intervenção e amenização de determinados
sintomas. Nesse contexto, tanto o mapeamento genético, quanto todos os exames e
testes desenvolvidos foram passos importantes para o aperfeiçoamento no
diagnóstico bioquímico para o transtorno, sendo o mapeamento genético
necessário para complementar o diagnóstico e o tratamento do autismo,
melhorando a qualidade de vida dos afetados e das famílias. Assim, mesmo
que a origem e a progressão do autismo ainda sejam incertas e incipientes
cientificamente, os pesquisadores já têm hipóteses de que existem vários genes
envolvidos com o transtorno e objetivo atual é compreender como esses genes
interagem com os fatores ambientais.
4. REFERÊNCIAS
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Bosl
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João Victor Soares Coriolano Coutinho, Rosa
Maria do Vale Bosso.A UTISMO E GENÉTICA: UMA REVISÃO DE LITERATURA.Revista
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Troy Vargason,
Robert A. Rubin,Leanna Delhey,Marie Tippett, Shannon Rose, Sirish C. Bennuri,
John C. Slattery, Stepan Melnyk, S. Jill James, Richard E. Frye,Juergen Hahn,
Bioengineering & Translational Medicine,2018.
Polimanti, R; Gelernter.Widespread signatures of positive selection in
common risk alleles associated to autism spectrum disorder. PLOS Genetics , 2017.
Yi, J.J.; Berrios,
J.; Jason M. Newbern, William D. Snider, Benjamin D. Philpot,Klaus M. Hahn,2
and Mark J. Zylka. An Autism-Linked Mutation Disables Phosphorylation Control
of UBE3A. Cell, 2015.
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