Conversamos com Chris Claremont, o principal roteirista dos X-Men. Chris participou da criação de vários mutantes, entre eles Vampira, Lince Negra e Gambit e participou de adaptações da histórias de Jean Grey com a Fênix Negra (o que é totalmente psicanalítico) e Magneto, um dos personagens mais complexos dos X-Men. Perguntamos ao Chris como ele considerava a psicologia durante a construção dos personagens, especialmente na reconstrução do Magneto. Vamos ao que ele nos disse:
“Para começar, o caráter psicológico do personagem é a característica principal que vai influenciar em quem, no quê, onde e porquê as histórias dos personagens vão acontecer. O objetivo é criar pessoas tão reais quanto o escritor possa fazê-las, utilizando incontáveis elementos que venham de pessoas, lugares e eventos que o escritor observa ou encontra. Para produtores, isso pode ser uma frustração porque um elemento-chave é a nuance e nuances, raramente, são apreciadas em HQs. O elemento crucial na história e no personagem é sua essência.
Nuances tendem a deixar as coisas mais complicadas. Doutor Destino é um vilão, sem dúvidas e sempre foi/será. Magneto era o mesmo – até, para melhor ou pior, eu chegar. Ele havia fundado uma organização que, orgulhosamente, chamou de Irmandade dos Mutantes “do Mal”. Quando eu tive a oportunidade de reconstruí-lo (quando eu assumi a responsabilidade de escrever os X-Men, ele tinha sido levado à sua infância), eu usei a oportunidade para tentar responder questões-chaves e vi que no processo, eu poderia encontrar um jeito de torná-lo um personagem mais ajustado e interessante.
Estamos falando de 1975. Tanto ele quanto Xavier pareciam estar no auge de suas vidas e eu determinei que eles fossem crianças por volta da década de 40, o que significa que eles nasceram antes da Segunda Guerra Mundial. A fisionomia logo sugere que Magneto era europeu, o que também indica que a Guerra e o nazismo foram elementos prováveis da formação de seu passado. O cabelo branco sugeria tanto um sério trauma que encorajava uma seriedade a nível ou alguma coincidência genética. Sua extrema relação com o poder sobre o mundo e a mais intensa paixão pelos direitos mutantes sugeria uma resposta primária a um trauma primário. As respostas eu encontrei diante da minha inexorabilidade diante do holocausto e foi decisão minha fazer disto algo base na formação de vida do Magneto.
O outro elemento que eu optei por aplicar em suas ações e características era que seria campeão em apenas uma causa. Ele não se vê como um vilão - pelo menos ele sabe o que são considerados atos de vilãos (como afundar um submarino soviético depois de lançarem mísseis contra ele em “Uncanny X-Men #150”) – mas um campeão pelos direitos das pessoas. Sem dúvida, ele entregou à Corte provas de seus atos, assumindo total responsabilidade por eles. Meu objetivo para o personagem foi redimi-lo totalmente e completar a mudança de vilão para herói. A Marvel, a verdadeira dona dos destinos de outros personagens, tinha outra ideias.
Para melhor ou pior, minha visão de Magneto está em constante progressão e crescimento. Ele é assustado pelos eventos de seu passado, mas diferente de quase todos os personagens atuais da Marvel, ele é inegavelmente marcado por um momento específico da história, o holocausto, o que não pode (eu espero) ser reconstruído, o que lhe dá uma maior complexidade se comparado a quase todos os outros personagens – exceto, talvez, Logan/Wolverine – e também lhe oferta uma maravilhosa oportunidade de profundidade e perspectiva para suas ações.
Uma coisa a sempre ser lembrada é que histórias em quadrinhos são colaborativas. Um escritor sozinho não pode definir um personagem. Até o momento, há várias histórias de Magneto em produção por diferentes escritores com diferentes perspectivas do personagem e diferentes objetivos para suas histórias. O objetivo deles é satisfazer suas editoras, logo as histórias serão aprovadas e os leitores as comprarão. As minhas são diferentes porque eu tive o luxo de, verdadeiramente, definir o escopo do personagem. Ainda bem que o resultado final para todos nós são histórias envolventes e leitores satisfeitos.”
Espero que isso responda sua pergunta...
Saudações,
Chris Claremont
Seja o primeiro a comentar!
Deixe teu comentário!