Preste a completar um ano de lançamento o filme Extraordinário, baseado no best-seller de mesmo nome de J. Palacio, ainda emociona inúmeros telespectadores ao narrar a história do pequeno Auggie que ensinam várias lições importantíssimas para toda a família. O longa-metragem retrata a vida de um garoto que nasceu com a Síndrome Treacher Collins, uma rara doença que causa deformidade facial, e que aos 10 anos passa a frequentar uma escola, trazendo inúmeros desafios e superações para todos os personagens.
Uma das grandes “sacadas” do filme é retratar de forma tão real tanto a doença quanto as sensações e emoções vividas pelos personagens. Presente inclusive em papéis coadjuvantes, que mesmo não sendo foco da cena retratam através de gestos e expressões o sentimento de seus respectivos personagem.
Para compreender melhor o quão próximo da realidade o filme conseguiu retratar, o Nó Górdio convidou quatro profissionais especialistas em diferentes áreas para falar mais sobre isso. Partindo da pergunta “O que achou do filme?” as convidadas poderão sob a ótica da genética e da psicologia trazer considerações sobre o quão o filme foi feliz em suas referências acerca dos temas abordados.
A primeira convidada é a geneticista Andrezza Fernanda que com foco nesse assunto é possível saber mais acerca dessa da síndrome retratada, uma vez que através da genética é possível analisar os mecanismos e leis de transmissão de inúmeras características hereditárias, inclusive as condições que geram o aparecimento de certas doenças. No filme, a síndrome ganha um foco especial, podendo ser considerada o destaque da trama, sendo responsabilizada por mudar a vida de todos que cercam o personagem.
Logo após entrevistamos a psicóloga escolar Débora Reis especialista nas teorias de desenvolvimento propostas por Piaget, importante teórico que definiu estágios de desenvolvimento, para falar um pouco do desenvolvimento psíquico e comportamental do personagem, que é retratado como um menino de dez anos ingressando no quinto ano escolar. Sendo de grande valor essa preocupação do filme em retratar de forma real, visto que é possível afirmar que apesar da condição genética os portadores da Treacher Collins são capazes de se desenvolver intelectualmente da forma esperada para qualquer criança, desde que em um meio favorável.
Teremos também uma análise do filme por uma perspectiva da abordagem fenomenológica, por nossa convidada Tainá Sousa. Seu relato é importantíssimo para compreendermos o aspecto da abordagem anti determinista que busca compreender o sujeito por meio da sua subjetividade. Isto é, não se preocupa com o porquê dos fenômenos apresentados, mas sim como eles ocorrem. A abordagem acredita na potencialidade do ser humano de reinventar-se e desenvolver-se, mesmo este estando inserido em um contexto que não facilite esse processo. É com base nesses princípios que perceberemos, na trama, como o pequeno Auggie mostra sua capacidade de lidar com tudo que contribui para que seu desenvolvimento seja afetado devido as dificuldades que ele encontra ao se relacionar com crianças não portadoras da síndrome.
Por fim, nossa convidada Géssica, irá explicitar na perspectiva da Psicologia Social como ocorre a dinâmica do Auggie com as pessoas que o circundam e o meio social em que está inserido. Tratando do enfoque da Psicologia Social que é estudar a influência do contexto histórico-social e cultural no comportamento e na subjetividade, assim como na relação entre pessoas.
Lane, S.T.M. (2004). O que é Psicologia Social. São Paulo: Brasiliense.
Iniciando essa parte genética em que quase não é abordada no filme, vamos destrinchar mais sobre a mesma a fim do público entender sobre a síndrome de Treacher Collins.Lane, S.T.M. (2004). O que é Psicologia Social. São Paulo: Brasiliense.
Essa cena mostra o nascimento do Auggie, onde os pais estão com uma grande expectativa. E então nos perguntamos:
- Pode-se saber antes do parto se o bebê vai nascer assim, ou só após o nascimento? - Sim, o diagnóstico pode ser feito nos dois casos. Onde no pré-natal é possível através da análise molecular de amostras de vilosidades coriónicas, e o pós nascimento, ao notar que o bebê nasce com deformidades faciais é realizado um exame de imagens radiográficas onde pode visualizar mais detalhadamente essas deformidades.
Essa cena mostra a Via (irmã do Auggie) contando sucintamente ao seu namorado sobre o gene que o seu irmão possui. Pode ser abordada a parte da etiologia em que essa síndrome é um distúrbio do desenvolvimento craniofacial causado principalmente por mutações no gene TCOF1 (cerca de 90% dos casos). As mutações patogênicas, em geral, são específicas para cada família e estão localizadas ao longo do gene, ou seja, não há um sítio preferencial de ocorrência destas mutações. A probabilidade de uma criança herdar a confisco quando um dos progenitores apresenta a síndrome é de 50% e acontece na 7ª semana de gestação, sendo um distúrbio de caráter genético autossômico dominante. O gene portador da alteração genética foi mapeado na porção distal do braço longo do cromossomo 5. E sua incidência está estimada em uma faixa de 1:40000 a 1:70000 nascidos vivos. Entretanto, aproximadamente 50% dos casos são resultantes de mutação nova.
A cena em que o Auggie tira o capacete, mostra o seu rosto que apesar de diversas cirurgias ainda podem ser vistas algumas cicatrizes bastante explícitas que tiveram sintomas antecedentes como: mal formação dos pavilhões auriculares, anomalias oculares, maxilares, zigomáticos e mandibulares. A mal oclusão dentária é frequente pela hipoplasia da mandíbula, que é presente em quase todos os casos.
A imagem acima evidencia em como as cirurgias ajudaram ele no desenvolvimento; esse tratamento deve ser feito de acordo com os sintomas e necessidades específicas de cada paciente, mas é importante ressaltar que não há consequências neurológicas para a pessoa acometida, prova disso é a incrível capacidade de Auggie na matéria de ciências em sua escola, superando seus colegas de sala. Além disso, é aconselhável acompanhamento do portador por uma equipe multidisciplinar que inclui cirurgiões craniofaciais, oftalmologista, cirurgiões dentistas, também do psicólogo para ajudar na interação com o meio social, entre outros profissionais.
No Brasil temos um hospital referência no cenário científico nacional e internacional por oferecer aos portadores da síndrome tratamento especializado em anomalias craniofaciais e deficiências auditiva, o Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo, conhecido como "Centrinho", que dedica sua capacidade total instalada a usuários do SUS.
BENVEGNÚ Carla; SÍNDROME DE TREACHER COLLINS. Disponivel em : <https://www.imed.edu.br/Uploads/vanessasebben3(área2).pdf>.
No Brasil temos um hospital referência no cenário científico nacional e internacional por oferecer aos portadores da síndrome tratamento especializado em anomalias craniofaciais e deficiências auditiva, o Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo, conhecido como "Centrinho", que dedica sua capacidade total instalada a usuários do SUS.
BENVEGNÚ Carla; SÍNDROME DE TREACHER COLLINS. Disponivel em : <https://www.imed.edu.br/Uploads/vanessasebben3(área2).pdf>.
Síndrome de Treacher Collins: aspectos clínicos, genéticos e moleculares. Disponivel em: <https://www.revistas.usp.br/revistadc/article/view/86817>
Bezerra SMP, Ortega AOL, Guaré RO, et al. Síndrome de Treacher Collins: características clínicas e relato de caso. Rev Pos Grad. 2005, 12(4):499-505.
Desenvolvimento cognitivo: Inserção no ambiente escolar
Ao ver o filme fica claro o porquê do nome escolhido, no longa conhecemos uma criança que é portadora de uma síndrome rara. Mesmo tendo sua aparência comprometida pelas deformidades faciais, não tem nenhum dano intelectual e cognitivo, sendo assim possível o desenvolvimento normal como qualquer criança, o menino surpreende pela inteligência acima da média com tão pouca idade, interessa-se pela matéria de ciências, que é justamente a que tem maior nível de dificuldade segundo os colegas, desde o começo o filme ensina que não se deve subestimar ninguém.
Acompanha-se o desenvolvimento de Auggie a partir dos dez anos, pelo que mostra é possível concluir que o garoto desde pequeno foi bem estimulado, principalmente pela mãe que dava aulas em casa para ele; se levarmos em consideração Piaget, importante teórico interacionista que explicou o desenvolvimento humano e que destacava a importância dos estímulos, admite-se que o indivíduo apesar de vir ao mundo carregando estruturas hereditárias herdadas biologicamente, para a maturação dos seus aspectos cognitivos, os estímulos exteriores são fundamentais. Lembrando que a criança não é passiva nesse processo.
O pequeno Auggie por decisão de sua mãe é inserido no contexto escolar pela primeira vez. Apesar de ter todo o conhecimento de livros e conteúdos em casa, é necessário que a criança frequente outro ambiente social. Piaget não se aprofunda muito nesse tema, mas destacava a importância da interação social para o desenvolvimento da inteligência do individuo. Ele é desafiado a sair do que é cômodo e conhecido, o que segundo o teórico rompe com o estado de equilíbrio da criança, que busca adaptar-se a nova realidade. Dois processos estão envolvidos aí, a assimilação, onde quando se está diante de uma realidade desconhecida busca no seu repertório em sua estrutura mental solucionar aquela situação, porém quando esta se mostra insuficiente ocorre a modificação e aprimoramento dessas estruturas para a resolução, que se denomina acomodação. Assim se percebe ser uma via de mão dupla, uma constante busca de se atingir o equilíbrio necessário.
Ainda que Auggie por causa da sua aparência tenha encontrado resistência para adaptar-se à escola, e em diversas situações ter sido ridicularizado, consegue formar laços com alguns dos colegas, cursando 5° ano do ensino fundamental, quando as crianças têm em média dez anos de idade e que segundo Piaget estariam no estágio operatório concreto, onde se tem um declínio significativo do egocentrismo, traço que se evidencia no estágio anterior, isso ajuda nas relações ao considerarem o ponto de vista do outro, o que pode coincidir com o início da escolarização, mesmo Auggie tendo se inserido no contexto escolar tardiamente, tudo isso se pode observar no filme nas construções das relações do pequeno com quem esta ao seu redor, nessa fase é possível na interação com o outro cooperar sem perder a autonomia, a criança também realiza operações concretas lógicas, o pensamento é reversível, passa a raciocinar, mas ainda não pensa abstratamente.
Superando as expectativas da família, o garoto faz amigos e se importa tanto com eles a ponto de se decepcionar, se afastar e posteriormente perdoar, que nos diz o quando a relação se tornou significativa para a criança, traços identificáveis justamente ao longo do estágio operatório concreto. Piaget contribuiu bastante para a análise e compreensão do desenvolvimento infantil, é importante salientar que na elaboração de suas teorias, ao classificar as faixas etárias e mostrar os traços evidentes e que podem ser vistos geralmente em idades específicas, podem ocorrer variações, dependendo do individuo e do contexto em que esta inserido, mas é instigante e animador quando ao observar uma criança essas características saltam os olhos, como acontece no filme Extraordinário.
Rappaport, C.R., (1981). O Modelo Piagetiano (pág. 51-63). In. Rappaport, C.R., Fiori, W. R., & Davis, C. Psicologia do desenvolvimento. São Paulo: E.P.U.
Acompanha-se o desenvolvimento de Auggie a partir dos dez anos, pelo que mostra é possível concluir que o garoto desde pequeno foi bem estimulado, principalmente pela mãe que dava aulas em casa para ele; se levarmos em consideração Piaget, importante teórico interacionista que explicou o desenvolvimento humano e que destacava a importância dos estímulos, admite-se que o indivíduo apesar de vir ao mundo carregando estruturas hereditárias herdadas biologicamente, para a maturação dos seus aspectos cognitivos, os estímulos exteriores são fundamentais. Lembrando que a criança não é passiva nesse processo.
O pequeno Auggie por decisão de sua mãe é inserido no contexto escolar pela primeira vez. Apesar de ter todo o conhecimento de livros e conteúdos em casa, é necessário que a criança frequente outro ambiente social. Piaget não se aprofunda muito nesse tema, mas destacava a importância da interação social para o desenvolvimento da inteligência do individuo. Ele é desafiado a sair do que é cômodo e conhecido, o que segundo o teórico rompe com o estado de equilíbrio da criança, que busca adaptar-se a nova realidade. Dois processos estão envolvidos aí, a assimilação, onde quando se está diante de uma realidade desconhecida busca no seu repertório em sua estrutura mental solucionar aquela situação, porém quando esta se mostra insuficiente ocorre a modificação e aprimoramento dessas estruturas para a resolução, que se denomina acomodação. Assim se percebe ser uma via de mão dupla, uma constante busca de se atingir o equilíbrio necessário.
Ainda que Auggie por causa da sua aparência tenha encontrado resistência para adaptar-se à escola, e em diversas situações ter sido ridicularizado, consegue formar laços com alguns dos colegas, cursando 5° ano do ensino fundamental, quando as crianças têm em média dez anos de idade e que segundo Piaget estariam no estágio operatório concreto, onde se tem um declínio significativo do egocentrismo, traço que se evidencia no estágio anterior, isso ajuda nas relações ao considerarem o ponto de vista do outro, o que pode coincidir com o início da escolarização, mesmo Auggie tendo se inserido no contexto escolar tardiamente, tudo isso se pode observar no filme nas construções das relações do pequeno com quem esta ao seu redor, nessa fase é possível na interação com o outro cooperar sem perder a autonomia, a criança também realiza operações concretas lógicas, o pensamento é reversível, passa a raciocinar, mas ainda não pensa abstratamente.
Superando as expectativas da família, o garoto faz amigos e se importa tanto com eles a ponto de se decepcionar, se afastar e posteriormente perdoar, que nos diz o quando a relação se tornou significativa para a criança, traços identificáveis justamente ao longo do estágio operatório concreto. Piaget contribuiu bastante para a análise e compreensão do desenvolvimento infantil, é importante salientar que na elaboração de suas teorias, ao classificar as faixas etárias e mostrar os traços evidentes e que podem ser vistos geralmente em idades específicas, podem ocorrer variações, dependendo do individuo e do contexto em que esta inserido, mas é instigante e animador quando ao observar uma criança essas características saltam os olhos, como acontece no filme Extraordinário.
Rappaport, C.R., (1981). O Modelo Piagetiano (pág. 51-63). In. Rappaport, C.R., Fiori, W. R., & Davis, C. Psicologia do desenvolvimento. São Paulo: E.P.U.
De La Taille. O lugar da interação social na concepção de Jean Piaget. (p. 11-21).
Um olhar atento ao fenômeno
O homem elefante, O corcunda de Notre Dame e agora Extraordinário dirigido por Stephen Chbosky. O que teria essa mais recente obra, originalmente escrita por Raquel Jaamilo, e agora adaptada para o cinema, em comum com essas outras historias clássicas que são tão diferentes umas das outras? Talvez o fato dos personagens principais serem inocentes e encantadores e terem de lidar com sua questão física em um mundo de extremo preconceito? Sim. Mas podemos ir além, podemos falar de Extraordinário como mais uma obra que vem para expor nossa ainda incapacidade enquanto sociedade de não só respeitar pelo outro, mas entender a imensurável importância da singularidade humana, em todos os aspectos, por nós mesmos. A história retrata a vida de Auggie Pulmman um garoto de dez anos que sofre da síndrome de Treacher Collins e que vai enfrentar pela primeira vez as dificuldades do dia a dia em uma escola após anos de estudo domiciliar. Soma-se isso a sua questão física e temos um drama fatalmente focado em bullying e rejeição. Os mecanismos de defesas encontrados por Auggie são o seu capacete que o esconde do mundo, e sua imaginação que o ajudam a passar por um enorme grupo de pessoas que o julgam e o encaram impiedosamente.
É interessante como o filme aborda as diversas perspectivas e subjetividades de cada personagem. Seja com o pai retratado como sendo cuidador, mas ao mesmo tempo companheiro; ou com a mãe que entende a importância da jornada traçada por Auggie, mas ao mesmo tempo teme por ele (por entender como o mundo funciona). Retrata também a relação da irmã dele com o excesso de atenção que Auggie recebe, entendendo a importância desse cuidado, mas não deixando de expressar sua insatisfação diante do fato de sentir-se deixada de lado as vezes; outro ponto importante também é como os colegas deles são retratados diante de suas dúvidas, preconceitos e afeto diante de Auggie, mostrando que essa interação é muito mais complexa do que imaginamos, como quando, por exemplo, um dos colegas que de fato gostava de estar com ele, fala mal de sua questão física, magoando Auggie.
Trazendo um olhar fenomenológico dessa problemática de pessoas que praticam bullying, vemos nesse processo um total desrespeito a intencionalidade de Auggie, que acaba por se esconder seja fisicamente ( antes não indo e no início usando seu capacete de astronauta) e até fugir do estar presente no mundo com o outro no aqui e no agora para se refugiar em algum outro lugar em sua mente, processo esse incentivado pela mãe (que apenas tenta o proteger e guiá-lo nesse novo mundo ainda que com receios) quando o diz que se ele não gostar de onde está poderá pensar em outro lugar. O conceito de intencionalidade pode ser entendido como o ato de atribuir sentido, é ela que unifica a consciência e o objeto, o indivíduo e o mundo que o cerca. É o reconhecimento de que o mundo não se resume a uma exterioridade, assim como o sujeito não se resume a sua interioridade, mas a saída de si para um mundo que se relaciona com ele pela significação que é própria dele mesmo. Tão importante quanto trabalhar as questões de como Auggie se relaciona com o bullying, é entender o que pensa e sente – e como pensa e sente – as pessoas que o praticam. Nesse sentido, o filme retrata bem o quanto devemos fugir dessa perspectiva determinista de causa e efeito. Existe um motivo e uma significação dada ao ato de quem pratica a exclusão e subjuga o outro. E esse entendimento é de extrema importância, não no sentido de aceitação do ato, mas de compressão do fenômeno tal qual como ele é. Por muitas vezes o que as pessoas buscam é também fugir da rejeição e da exclusão, à medida que eu enquanto sujeito que pertenço a um grupo, localizo quem não o pertence e me afasto, essa é uma maneira de se firmar como nesse não lugar de marginalização. Isso parece acontecer nas relações estabelecidas por Auggie na escola no decorrer do filme. Essa busca por compreensão certamente não garante, mas é essencial se quisemos iniciar e promover de fato uma real mudança em qualquer ambiente, principalmente no contexto do filme por se tratar de crianças que por muitas vezes refletem apenas o mundo que os rodeiam.
Essas questões se relacionam muito com o conceito de Heidegger de ser-no-mundo que compreende o homem como ele habita o mundo, como ele convive com esse mundo que o cerca. E também com o conceito de ser-com-outro que é essa relação do ser individual com o outro, sendo capaz de influenciar e ser influenciado. Essa relação com o filme é bastante interessante e notável como a socialização de Auggie ainda que fosse inicialmente dolorosa foi importantíssima para que ele criasse confiança, pudesse expressar seu sofrimento diante dos olhares que recebia e estabelecesse vínculos com além dos familiares.
O filme Extraordinário consegue ir além do clichê ao olhar para as pessoas e os acontecimentos como algo que não é maniqueísta, e que precisamos compreender melhor e respeitar as singularidades não só no sentido da diferença física, mas também na relação que cada um tem com os dilemas que carrega.
FORGHIERI, Y.C. Psicologia Fenomenológica: fundamentos, método e pesquisa. Pioneira. 1993.
CRITELLI, D. A Analítica do sentido: uma aproximação e interpretação do real de orientação fenomenológica.
Editora Brasiliense. 1996.
Interação social: Problemas enfrentados
De forma leve e envolvente, o enredo da trama trata dentre
outros assuntos, o bullying, inclusive um dos principais temas
abordados no filme; passando uma mensagem fácil de ser compreendida por
qualquer faixa etária que assistir pela sensibilidade com que é abordado.
Mesmo protetora, assim que a família percebe que o pequeno
Auggie atinge um determinado estágio de desenvolvimento, ele é estimulado a
frequentar a escola e assim começar a interagir com outras crianças, fator
determinante para que as diferenças sejam trabalhadas, pois não basta saber que
elas existem, é preciso ensinar a conviver em sociedade com as diferenças, além
de poder estabelecer vínculos afetivos para além do familiar.
Porém assim que iniciou o ano letivo Auggie teve de enfrentar
situações onde foi rotulado e subjugado por sua aparência decorrente da
síndrome a que foi acometido. Se ele falava e tinha conhecimentos mínimos das
matérias escolares foram alguns dos questionamentos feitos a ele, o que no
decorrer do filme prova que além de cooperativo, era inteligente e um bom
amigo, refutando todas as características a ele atribuídas sem o conhecer de
verdade.
Apesar dos esclarecimentos, Auggie começa a enfrentar também
o bullying de seus colegas, um problema crônico nas escolas, onde agressões de
formas variadas acontecem comprometendo o desenvolvimento do aluno dentro e
fora do ambiente acadêmico. “A praga” e “aberração” são alguns exemplos dos
apelidos recebidos, e como é sabido, as crianças são mais suscetíveis e
absorvem com mais facilidade essas situações, e mesmo com todo apoio emocional
dado pelos pais e a irmã, passa a ficar mais irritado, desmotivado e deprimido
revelando assim sinais das agressões sofridas na escola.
Contudo, a escola
contava com profissionais capacitados e dispostos a combater o bullying,
atitude essencial para a redução desse fenômeno; demonstrada desde o início do
filme pelo diretor que promoveu uma interação de Auggie com alunos veteranos
mesmo antes do início das aulas. O professor de ciências também se mostrou
bastante assertivo, identificando e repreendendo as agressões em sala de aula,
comportamentos que na vida real usualmente são naturalizados por docentes no
ambiente escolar pelo despreparo para lidar com a demanda.
O filme Extraordinário dá uma aula de conscientização e
respeito às diferenças, pois explicita os sentimentos dos personagens do filme
de forma fiel, é um convite a melhorar as formas de interação com o meio, não
julgar as capacidades pela aparência e a pensar mais coletivamente.
TORO, Giovana Vidotto Roman; NEVES, Anamaria Silva e REZENDE, Paula Cristina Medeiros.Bullying, o exercício da violência no contexto escolar: reflexões sobre um sintoma social.Psicol. teor. prat. [online]. 2010, vol.12, n.1, pp. 123-137. ISSN 1516-3687.
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